Bactéria Oito mortos e 22 doentes infetados no Hospital de Gaia
Primeiro caso foi identificado em agosto, num paciente que tinha sido operado
Restantes internados em isolamento
Nos últimos dois meses, 30 doentes do Hospital de Gaia foram infetados por uma bactéria muito resistente a antibióticos. Do total de casos identificados até agora, oito pessoas morreram, confirmou ao JN o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E). Os restantes 22 doentes estão sem sintomas, mas todos internados e em isolamento.
As vítimas mortais apresentavam um quadro clínico de base muito complexo e grave, pelo que a causa dos óbitos não pode ser atribuída diretamente à infeção, esclareceu, por escrito, Margarida Mota, coordenadora do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos do CHVNG/E.
A bactéria em causa chama-se Klebsiella pneumoniae portadora de KPC, o que significa que é alta-
Bactéria Klebsiella pneumoniae portadora de KPC é altamente resistente a antibióticos
mente resistente a antibióticos. O primeiro caso em Gaia foi notificado a 7 de agosto. Desde então, sucederam-se os contágios. Dos 30 doentes infetados, 22 são considerados “portadores assintomáticos”, adiantou a mesma responsável, acrescentando que atualmente não há qualquer doente em regime de cuidados intensivos.
A fonte da bactéria já terá sido identificada. “Com base na análise dos dados atualmente existentes, o caso índex terá sido um doente do foro cirúrgico, com complicações pós-operatórias e com necessidade de vários esquemas de antibioterapia”, explicou Margarida Mota. A presença de uma ferida aberta exsudativa “potenciou as vias de transmissão”. Está ainda em curso a análise dos genótipos dos casos em isolamento.
A bactéria transmite-se de pessoa para pessoa através do contacto com fluidos ou secreções, o que implica cuidados redobrados dos profissionais de saúde, nomeadamente a lavagem e desinfeção das mãos antes e depois do contacto com os doentes e o uso de máscaras de proteção. O Hospital de Gaia fez o rastreio de 44 pessoas potencialmente em risco por terem contactado com doentes e, destas, oito deram resultado positivo.
A identificação do primeiro caso pôs em marcha um plano de ação do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos do CHVNG/E. Entre outras medidas, foi reforçada a capacidade do Laboratório de Microbiologia, isolamento imediato dos casos positivos e suspeitos, reforçada a vigilância epidemiológica e notificadas as estirpes à Direção-Geral da Saúde. Foi ainda reforçada a restrição do uso de dispositivos médicos invasivos e publicada informação interna sobre as medidas de prevenção deste tipo de bactérias.
Contactada pelo JN, Merlinde Madureira, presidente da Federação Nacional de Médicos e especialista naquela unidade hospitalar, garantiu que, neste caso, “o comportamento do hospital foi exemplar”. E lembrou que as infeções hospitalares são frequentes tanto em Portugal como no estrangeiro. O CHVNG/E dá resposta a uma área com 700 mil habitantes.