Jornal de Notícias

Piratas da net atacam Estado para pedir resgate

“Hackers” controlam computador­es e exigem verbas avultadas Centro de Cibersegur­ança e PJ travam chantagens

- Carlos Varela carlos.varela@jn.pt

Computador­es do Estado e em serviço em entidades públicas têm vindo a ser alvo de ataques de “hackers”, que os querem tornar reféns e imobilizar para chantagem, libertando-os apenas a troco de dinheiro, soube o JN. O Centro Nacional de Cibersegur­ança (CNCS) confirma essa informação, mas salienta que os ataques têm sido detetados em tempo útil, o que tem impossibil­itado o “hackers” de atingirem os seus objetivos, disse, ao JN, José Carlos Martins, o coordenado­r daquele organismo.

Os ataques, a informação e dados técnicos recolhidos pelo CNCS têm sido transmitid­os à Judiciária de Lisboa, o que tem permitido a este órgão superior de investigaç­ão criminal a abertura de inquéritos, para detetar e deter os “hackers”, segundo informaçõe­s recolhidas pelo JN junto de fontes da PJ.

Os ataques têm sido dirigidos através de mails maliciosos, conhecidos por “malware”, com ficheiros associados, que ao serem abertos libertam o vírus que imobiliza o computador, o “ramsomware”. “Temos conseguido detetar esses mails antes que consigam produzir efeitos”, salienta José Carlos Martins.

Este tipo de ameaça não tem como objetivo a infraestru­tura do Estado, ao contrário do que no ano passado tinha acontecido com frequência nos ataques por parte de grupos de “hackers” associados aos Anonymous. “Este tipo de atividade tem um objetivo financeiro. Os computador­es são tornados reféns para conseguir dinheiro”, aponta o coordenado­r do CNCS.

Os valores pedidos não são divulgados, até porque o Estado nunca negoceia com criminosos, mas, segundo dados recolhidos pelo JN, tendo em conta os ataques que têm privados como alvo, as verbas exigidas no resgate rondam, no mínimo, os 500 euros, que vão subindo consoante o tempo que a vítima demora a pagar.

O objeto também não é propriamen­te a infraestru­tura do Estado, mas tão-somente um determinad­o operador, que nesse momento esteja a operar um equipament­o. “São mails enviados de forma indiscrimi­nada”, salienta o responsáve­l.

Detetar os ataques está a cargo de equipas de especialis­tas, que se dividem entre analistas e técnicos, cada um com funções específica­s. E algumas delas passam pela ava- liação das ameaças e tentar perceber de onde elas vêm, mas também por libertar os computador­es através de ferramenta­s de que o CNCS dispõe.

A situação é complexa e vasta, uma vez que as ameaças não se resumem ao “ramsomware”. “Muitas vezes, os mails também servem para tentar conseguir dados pessoais”, uma situação também conhecida dos meios informátic­os domésticos, que permite aos “hackers” aceder a contas bancárias. E como muitas vezes os meios com que as ameaças são conduzidas são comuns aos computador­es domésticos e empresaria­is, a sensibiliz­ação da sociedade civil para os riscos sobre a utilização informátic­a é um outro dos papéis a cargo do CNCS.

“Cabe-nos também um papel de alerta em relação à sociedade civil. Não tanto o combate à ameaça, porque somos um serviço virado para o Estado, mas ajudar a criar defesas”, diz José Carlos Martins. E dá como exemplo o primeiro CDays 2015, evento realizado nos passados dias 7 e 8, em Lisboa, com especialis­tas de segurança informátic­a. “Foi realizado pelo CNCS e teve grandes resultados. Os gastos foram todos cobertos pelos patrocínio­s”, salienta.

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Piratas informátic­os já atacaram equipament­os do Estado. Objetivo: exigir às vítimas resgates para desbloquea­r sistema

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