Jornal de Notícias

Passa cinco horas do dia em viagens para lecionar

- ANA PEIXOTO FERNANDES

Gasta 400 euros por mês em transporte­s. Levanta-se todos os dias às 4.45 horas da manhã. Passa perto de cinco horas em viagens, entre a sua residência, em Ganfei, Valença, e o Agrupament­o de Escolas António Nobre no Porto, onde dá aulas. Regressa a casa por volta das 20 horas. Quando não é mais tarde, por causa das reuniões. Tem marido e dois filhos, com 10 e 14 anos, à espera. Um pai octogenári­o e um irmão com graves problemas de saúde a precisar de atenção. E toda uma vida que gostava de viver, mas não pode. Rosa Ribeiro, 43 anos, professora de Português e Francês há 19, não sabe até quando resistirá. “Sou uma nómada. Não tenho vida”, desabafa. Contratada durante os primeiros sete anos de profissão, deu aulas em várias escolas do distrito de Viana do Castelo, perto de casa. Em 2004 entrou para os quadros e “a odisseia começou”. Beja e depois “um ano dificílimo” no Algarve. “A minha filha tinha dois anos e oito meses. Sofreu. Ainda hoje está traumatiza­da. E o que ganhava não dava para as despesas. Trabalhava para ter tempo de serviço”, conta. A seguir, dois anos em Penafiel: “Já tinha nascido o meu rapaz. Estive sozinha lá com os filhos. O pai é GNR, não tem horários fixos. Foi opção levá-los”, recorda. Recentemen­te, Vila Nova de Cerveira e Porto, onde está colocada há três anos. As emoções de Rosa Ribeiro misturam-se. Sorri, mas de vez em quando veem-se lágrimas nos olhos. “Estou saturada. Este verão fomos a um jantar e eu não vi uma porta de vidro, fui contra ela, rachei o nariz. É cansaço. Esqueço-me do telemóvel, perco paragens de autocarro, a vida familiar ressente-se…”, lamenta.

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Rosa Ribeiro, 43 anos, professora há 19, não sabe até quando resistirá

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