Sai de casa de madrugada para chegar a horas ao Porto
Ivete Gonçalves voltou hoje a acordar às 4.40 da manhã. É sempre assim, de segunda a sexta-feira, para chegar a tempo do início das aulas no Agrupamento António Nobre, no Porto. Regressará a casa, na Cumieira, Santa Marta de Penaguião, por volta das 19 horas. À espera, três filhos e o marido. E repetirá a dose até chegar o fim de semana, esses dois dias para carregar baterias e dispensar à família os mimos poupados nos outros. Faz de carro os quase 10 quilómetros que a levam até ao terminal da Rodonorte, em Vila Real. O autocarro arranca às 06.05 horas e chega hora e meia depois à paragem do Hospital de São João, no Porto. A seguir, apanha o autocarro 305 e ainda faz 15 minutos a pé. Começa a dar aulas às 8.25 horas, quase quatro horas depois de se levantar. À tarde, faz de novo o percurso inverso. “Não é fácil. Perde-se muita vida da família. Mas é por ela que faço este sacrifício diário, pois era mais fácil e barato arrendar um quarto no Porto”, assume a docente, com energia para dar e vender. Só assim justifica que, ao chegar a casa, com vontade de cair para o lado, ainda tenha pilhas para “tratar da logística familiar”, nomeadamente dos três filhos. “O que vale é que é a minha mãe que faz o jantar”, sorri. O descanso é parco. “Raramente consigo deitar-me antes da 1.30 hora da manhã, pelo que só durmo cerca de três horas por noite”. Ivete tem 42 anos. Os últimos 19 a ensinar Português em 12 escolas, entre Bragança e o Alentejo. “Sempre com muita paixão”. No próximo ano, continuará no Porto. Depois, não sabe. Apesar de fazer parte do quadro, não se livra de poder ser colocada em qualquer escola do Norte do país.