Jornal de Notícias

Familiares acusam lar de maus-tratos

Évora Denúncias de falta de cuidados e de agressões entre utentes em unidade da Misericórd­ia de Alcáçovas. Provedor nega

- Paulo Lourenço jplourenco@jn.pt

Falta de cuidados básicos de saúde, agressões entre idosos e maustratos verbais. A denúncia partiu de familiares de utentes do Lar da Santa Casa da Misericórd­ia de Alcáçovas, Viana do Alentejo, no distrito de Évora. António Baguinha, provedor da instituiçã­o, nega todas as acusações e diz que tudo não passa de “uma “embrulhada” que a filha de um utente “habilidosa­mente prepara”.

A visada, Cristela Caixinha, assume não ter problemas em dar a cara e mostra ao JN fotos que, diz, serem a prova de que o lar não cuida convenient­emente dos utentes. “Falo em nome de muitos outros, que, por medo de represália­s, têm receio de denunciar estas situações”, assegura.

Foi há cerca de um mês que, durante uma visita rotineira, Cristela e uma prima encontrara­m a mãe desta, uma senhora de 92 anos, com os peitos todos negros. “Ficámos chocadas quando levantámos a camisola e a vimos naquele estado. A minha prima chamou a responsáve­l de serviço e esta não soube explicar o que se teria passado e nada estava registado no livro de ocorrência­s”, conta.

Em nota escrita enviada ao JN, o provedor diz que “a senhora apresentou uma hematoma no peito” e que “existe um relatório da médica declarando ser um traumatism­o posicional de um peito” e que “mais tarde “voltou ao hospital, por ter aparecido no outro peito”.

Pai com orelha cortada

Cristela lembra o dia em que encontrou o pai, David Caixinha, com uma orelha cortada, na sequência de uma alegada agressão por parte de outro utente. “Descobri por acaso, sem que ninguém do lar tenha informado a família”, diz. António Baguinha não nega o sucedido. Destaca apenas que a queixosa “se esqueceu de que no dia imediato o pai agrediu um idoso”. Há também quem acuse o provedor de maus-tratos verbais aos utentes. Um habitante, que solicitou o anonimato, diz que, há tempos, António Baguinha impediu um utente com problemas psiquiátri­cos de almoçar, por chegar atrasado. “Tirou-lhe o prato e os talheres da frente e disse-lhe que ficava sem comer”, revela. O provedor volta a negar e diz que foi “a encarregad­a, que achou por bem chamar a atenção ao utente, por este chegar sempre atrasado ao refeitório”.

Outros familiares com quem o JN contactou queixam-se de falta de informação sobre as ocorrência­s do género das descritas.

A par de Cristela Caixinha, também João Fitas, de 65 anos, que habita numa casa cedida pela Misericórd­ia há 25 anos, dá a cara para acusar o provedor de ofensas. “Insultou-me. Chamou-me nomes que visavam a minha sexualidad­e”, conta. António Baguinha defende-se e diz que apenas falou com João Fitas uma vez e para lhe exigir “muitas rendas em atraso”.

Cristela Caixinha partilhou inclusive nas redes sociais fotos das situações que considera mais graves. Já o responsáve­l pela instituiçã­o alega que “essa senhora está ressentida com a Mesa Administra­tiva do mandato anterior, por não ter feito contrato com ela como empregada”.

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e João Fitas, dois queixosos, junto ao lar da Misericórd­ia de Alcáçovas
Cristela Caixinha e João Fitas, dois queixosos, junto ao lar da Misericórd­ia de Alcáçovas
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 ??  ?? Mulher de 92 anos foi encontrada pela filha com os dois peitos todos negros. A família acusa o lar de não a ter informado da situação. Ao lado, David Caixinha com um tornozelo ferido. Em cima, Cristela mostra a orelha ferida do pai
Mulher de 92 anos foi encontrada pela filha com os dois peitos todos negros. A família acusa o lar de não a ter informado da situação. Ao lado, David Caixinha com um tornozelo ferido. Em cima, Cristela mostra a orelha ferida do pai
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