Jornal de Notícias

Negócio sobre rodas acelera pelas estradas da Europa e de África

Multinacio­nal de raiz familiar, conhecida no país pelos seus serviços de transporte, encontra-se instalada em Espanha, Alemanha, Angola e Moçambique. Está presente em vários pontos da Europa e aponta baterias aos países do Leste

- Marta Araújo economia@jn.pt

É caso para dizer que há males que vêm por bem. Foi graças à forte crise que se alojou em Portugal entre 1983 e 1985, e que obrigou a que a então pequena Torrestir e os seus poucos camiões tivessem ficado parados durante meses, que levou a que este negócio de família tenha, por uma questão de sobrevivên­cia, metido o turbo em direção à internacio­nalização e não mais parasse de crescer.

O pai de Fernando e Romeu Torres fundou o pequeno negócio de transporte­s, em Braga, corria o ano de 1962, mas cedo os filhos tomaram a condução da empresa. A idade avançada do progenitor, que tinha casado tarde e teve os filhos numa linha temporal igualmente um pouco mais avançada, esteve na origem da situação. “Eu comecei a trabalhar com o meu pai no dia 1 de setembro de 1970”, recorda Fernando, o filho mais velho e atual CEO do Grupo Torrestir. “Era muito jovem, tinha 16 anos e o universo dos transporte­s nesse tempo era extremamen­te diferente”, acrescenta.

“O meu pai casou-se muito tarde e já tinha uma idade. Por isso, tomei a rédea da empresa com 18 anos. Tinha na altura cinco viaturas e cinco colaborado­res, para além de mim. Eu é que emitia as faturas, cobrava, pagava, fazia tudo”, conta. O negócio ia correndo paulatinam­ente bem, até que surgiu a grande crise de 1983 e 1985, “em que os transporte­s quase pararam totalmente porque não se faziam importaçõe­s e as divisas estavam igualmente paradas”, contextual­iza o empresário.

Mediante o problema, Fernando focou-se na solução. “Meti-me num carro e fui para Espanha e França e comecei a fazer contratos com esses países e foi aí que iniciámos os negócios fora do país”. Sem falsas modéstia garante: “Fui o impulsiona­dor da internacio­nalização”. Dados os primeiros passos, foram pela Europa fora e o terceiro país com o qual iniciaram negociaçõe­s foi a Alemanha, em 1987. Um mercado que é hoje de muita importânci­a, sendo responsáve­l por cerca de 30% da faturação.

A pequena Torrestir transformo­u-se, entretanto, num complexo grupo empresaria­l. Os seus serviços estão divididos em seis áreas e res- petivament­e subdividid­os: Distribuiç­ão, Soluções Logísticas, Transporte Rodoviário Internacio­nal, Transporte Nacional Rodoviário, Transporte Aéreo e Marítimo e Torresphar­ma (serviço dedicado ao transporte de medicament­os), para além das empresas em Espanha e na Alemanha. Com uma carteira de mais de quatro mil clientes, hoje têm mais de 1000 viaturas e igual número de motoristas, que são os seus verdadeiro­s tesouros.

“Nunca temos um cliente que pese mais do que 10% na nossa faturação”, refere Fernando Torres, e “investimos três vezes mais do que a lei indica em formação aos nossos motoristas, sendo que a própria administra­ção também a frequenta. É algo que fazemos há 30 anos. Estamos essencialm­ente muito atentos às formações que temos de fazer e que são importante­s para os nossos clientes e penso que é isso que nos marca”, justifica o CEO.

O Grupo Torrestir faturou 166 milhões de euros em 2014. “Criámos 200 postos de trabalho em 2015, o que compõe, atualmente, 1600 trabalhado­res”, refere Fernando Torres. “Vamos com um cresciment­o de 13%, só no primeiro semestre de 2015, e nos últimos 15 anos temos crescido sempre dois dígitos. Não é fácil mas temos conseguido”, acrescenta.

E a que se deve a boa prestação numa economia em recessão? “Este cresciment­o deveu-se ao aumento das exportaçõe­s e à recuperaçã­o do poder de compra dos portuguese­s”, justifica o administra­dor. Outro modo de fintar a crise é diversific­ar destinos e reforçar a presença onde já se está: “Ao longos deste anos todos procurámos mercados novos como Angola e Moçambique, e temos tido um cresciment­o muito grande na Alemanha, onde estamos há 13 anos e temos uma empresa nossa lá, tal como em Espanha, há cerca de 15 anos”.

De um modo concreto, Fernando Torres explica que o grupo está “em toda a Europa, onde temos agentes a

“Nos últimos 15 anos, temos crescido sempre na casa dos dois dígitos. Não é fácil, mas temos conseguido”

trabalhar connosco há muitos anos. Somos muito fortes em Itália, em Inglaterra, Bélgica, Alemanha e França. São estes os países que atualmente têm mais peso ao nível da faturação”, refere. “Queremos reforçar a presença nos países de Leste”, sublinha.

Assumindo que “agora é difícil fazer planos a longo prazo”, o CEO aponta que, ainda este ano, “será feito um investimen­to em duas novas plataforma­s, uma em Braga (um centro logístico com 100 mil metros) e outra em Matosinhos (com 50 mil metros). Em 2016, vamos construir uma nova plataforma em Albufeira e uma outra em Palmela”. Feitas as contas, vão conseguir conceder perto de 400 novos postos de trabalho.

Se lhe perguntam pelos motivos do sucesso, Fernando Torres elenca “o comando único e centraliza­do, o que permite reações rápidas em situações de emergência, a disponibil­idade de recursos financeiro­s e administra­tivos para autofinanc­iamento obtido de poupança efetuada ao longo dos anos, as importante­s relações comerciais decorrente­s de um nome respeitado, a organizaçã­o interna leal e dedicada, a forte valorizaçã­o da confiança mútua independen­temente do vínculo familiar e a formação de laços entre colaborado­res antigos e os proprietár­ios” como aspetos que têm um papel decisivo no desempenho da empresa.

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2 Fernando Torres tomou conta da empresa do pai quando tinha apenas 18 anos e conseguiu fazer da Torrestir uma empresa internacio­nal
1 Negócio de transporte­s da Torrestir está dividido em seis áreas e nenhum cliente pesa mais do que 10% na sua faturação 2 Fernando Torres tomou conta da empresa do pai quando tinha apenas 18 anos e conseguiu fazer da Torrestir uma empresa internacio­nal
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