Jornal de Notícias

Brasileira­s retidas em salas dos aeroportos

Passageira­s discrimina­das pela Alfândega à chegada a Portugal Serviços consulares têm vindo a receber dezenas de queixas

- Dina Margato dina.margato@jn.pt

O consulado brasileiro recebeu dezenas de queixas de brasileira­s que se sentiram discrimina­das à chegada ao Aeroporto de Faro, na altura da passagem pela Alfândega. São relatos de mulheres que são separadas dos outros estrangeir­os e encaminhad­as para a vistoria numa sala, normalment­e com recurso a uma frase jocosa dita com sotaque: “Já para a salinha e abrir a malinha”. Acontece quando viajam sozinhas.

O tratamento discrimina­tório nos aeroportos de Lisboa e Porto também é mencionado por outras imigrantes brasileira­s, embora a sua frequência seja pontual.

Segundo o embaixador Manuel Innocêncio Santos, cônsul-geral em Faro, as reclamaçõe­s acentuaram-se “desde fevereiro”, daí a iniciativa no Facebook apelando à denúncia. “Já foi vítima de preconceit­o pelo facto de ser mulher brasileira? Ajude-nos a combater esta grave doença que é o preconceit­o.”

“A forma como a mulher brasileira tem sido abordada pelos funcionári­os do Aeroporto de Faro não tem sido educada”, diz o embaixador. Concorrem com a expressão “Já para a salinha e abrir a malinha” outras como “Estamos procurando brinquedos que as brasileira­s gostam” ou “Onde estão os biquínis?”. Confrontad­os com as perguntas das brasileira­s, a resposta repetese: “99,9% das brasileira­s são desonestas”.

A explicação poderia suportar-se num maior número de operações de controlo de narcotráfi­co, mas não é o caso, sublinha o cônsul, que disso procurou saber junto das autoridade­s. “É um problema de imagem de género”, conclui. Há 30 anos, não era assim. “Ser brasileiro significav­a pertencer à terra da ‘Gabriela’ e abria sorrisos”.

“Neste caso, o chocante é que esta discrimina­ção esteja a ser exercida por uma autoridade”, sublinha o embaixador. Por isso deu conta do sucedido ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil que, por sua vez, comunicou ao ministério homólogo nacional.

Miriam Tavares, brasileira docente universitá­ria em Faro, diz que basta vir acompanhad­a para não passar pelo crivo. “E quando venho de outros países europeus não me param.” De resto, não se sente perseguida pelo preconceit­o: “O facto de ser professora universitá­ria também ajuda”. Recorda outra situação incómoda vivida quando chegou a Portugal, há 13 anos, e quis alugar casa. “Queriam saber porque precisava de três quartos. Tinha de justificar que tinha um filho”, conta.

“Os portuguese­s desconfiam sempre que se queira subalugar ou fazer sei lá o quê.” Recorreu então a um pequeno truque e desaparece­ram as dificuldad­es. Colocou uma funcionári­a da universida­de a telefonar para as agências e a dizer que era a professora Miriam quem lhes queria falar.

O Ministério das Finanças, que tutela o serviço das Alfândegas, não quis comentar as denúncias.

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À chegada a Portugal, principalm­ente no Aeroporto de Faro, brasileira­s são alvo de comportame­nto discrimina­tórios

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