Adversários açorianos voltam a ser opositores
Governo Ministro dos assuntos parlamentares do PSD e líder parlamentar do PS são opositores de longa data
Partilham os Açores como naturalidade, Carlos como primeiro nome e a política como combate quase desde a mesma altura – um tem 58 anos, o outro 61. Mas um é do PS e outro do PSD. Foram opositores há quase dez anos e voltam agora a enfrentar-se, mas no Parlamento do continente, onde tudo se jogará nos próximos dias.
O socialista Carlos César quase nunca saiu dos Açores para exercer cargos políticos. “É nos Açores que me sinto bem”, disse várias vezes o atual presidente e líder parlamentar do PS para justificar os convites que foi recusando. Ao contrário, a carreira política do social-democrata Carlos Costa Neves foi tendo incursões por Bruxelas, onde foi eurodeputado durante oito anos.
Os dois defrontaram-se mais seriamente em 2008, quando disputaram as eleições para o Governo Regional. César, que detinha a presidência desde 1996, foi reeleito e manteve-se no cargo até 2012. Teve três maiorias absolutas em quatro mandatos. Mas foi justamente em 1996, na sequência da derrota do histórico Mota Amaral, que Costa Neves assumiu a liderança do PSD. Esse resultado eleitoral foi, de resto, em tudo, parecido com o das legislativas de 4 de outubro (um partido ganhou com minoria, outros partidos tentaram coligar-se para o derrubar). Não por acaso o episódio tem sido ultimamente lembrado.
“Foram adversários diretos, mas nunca inimigos”, garante, ao JN, um amigo comum, recordando o episódio em que Carlos César defendeu Carlos Costa Neves no caso Portucale – processo relacionado com o abate de sobreiros para a construção de um empreendimento turístico em Benavente –, em que o ex -líder do PSD Açores chegou a ser arguido. Estávamos em 2007 quando César saiu em sua defesa. “Tenho a certeza que é um homem honesto. Espero que as investigações corram de forma rápida e que tudo corra da melhor forma para Costa Neves”.
Parecia o início de uma bela amizade. Mas não foi. Poucos meses depois, já o líder do PSD Açores não escondia a indignação. O Governo de Carlos César, criticou, é “mentiroso, intolerante, arrogante e demagógico”. Isto porque o socialista nomeara para seu assessor o antigo diretor de informação da RTP Açores. “Esta nomeação pode ser o pagamento da proteção que lhe deu”, avançou. E foi apenas uma das muitas acusações que marcaram o período de oposição entre os dois.
Os dois políticos açorianos voltam a cruzar-se agora, igualmente em lados opostos da trincheira, no XX Governo Constitucional, empossado anteontem, onde ambos desempenham cargos relevantes nos assuntos parlamentares – um como ministro da coligação PSD/CDS-PP, o outro como chefe de bancada do PS. Uma ponte para facilitar entendimentos numa altura em que o combate político está todo centrado no Parlamento ou um problema acrescido? Há pelos menos 15 dias para descobrir.