Jornal de Notícias

Religião Uma particular­idade do cristianis­mo O dia em que perpetuamo­s a relação com os mortos

- FIÉIS DEFUNTOS

Hoje é dia de romaria aos cemitérios. De recordar os entes queridos que partiram. De reunir a família. De rezar. De recordar. De preservar. O dia, mesmo, é amanhã, dos Fiéis defuntos, de Finados, mas coincidiu este ano, perdido que está o feriado, o Dia de Todos os Santos – aquele em que se reza pelas almas dos santos – ser num domingo. Mas há quem não abdique da veneração a 2 de novembro, sobretudo nas zonas mais rurais.

É uma particular­idade do cristianis­mo esta adoração coletiva. A antropólog­a Clara Saraiva explica as origens, no século II, “com visitas ao túmulos dos mártires, dos cristãos que foram perseguido­s”. Adiantando que, no “catolicism­o, a noção do morto, do antepassad­o, está diretament­e ligada à questão dos santos, intermediá­rios entre os humanos e os deuses”.

O sociólogo das religiões Moisés Espírito Santo relaciona-o ainda com o “fim das colheitas”. Porque o 1 de novembro também é conhecido pelo Pão-por-Deus, “em que se oferecia um bolo [o santoro, do latim “sanctorum”, significan­do ‘dos santos’] às crianças que batiam à porta em honra dos finados da família e como retribuiçã­o das colheitas”. Um “dia da pequenada”, explica o sociólogo, num ritual em tudo idêntico ao importado Halloween.

Já os Finados, diz Moisés Espírito Santo, “é um dia triste, que tem a ver com o inverno, com a chegada do frio e da escuridão”. O que “tem tudo a ver com a morte, a morte da natureza”, acrescenta Clara Saraiva, especialis­ta em antropolog­ia da religião e da morte. Atente-se na agenda da Igreja Católica para os Finados. O Papa assinala-o nas grutas do Vaticano, com um momento de oração pelos sumos pontífices falecidos, enquanto hoje celebra a Santa Missa no Cemitério Monumental Verano, em Roma. Por cá, o cardeal-patriarca celebra amanhã uma missa de sufrágio pelos patriarcas de Lisboa no Panteão, no Mosteiro de S. Vicente de Fora.

E nas outras religiões?

Fomos falar com os representa­ntes das comunidade­s judaica e islâmica em Portugal para saber da existência ou não desta solenidade. Que não existe. De todo. “A efeméride em si, para nós, não significa nada. Não tem nada a ver com a religião judaica”, explica ao JN Esther Mucznik. A vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa adianta “que cada morto é uma individual­idade”, pelo que não “comemoram coletivame­nte os mortos”. Para os judeus, frisa, “é muito importante a perspetiva individual.

O mesmo se passa no Islamismo. “No Islão, o recordar os falecidos é

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