Falta formação em caso de sismo
Lisboa Faz 260 anos que capital foi arrasada. Proteção Civil diz que há muito a fazer
Um terramoto como o que aconteceu em Lisboa faz hoje 260 anos teria consequências imprevisíveis. A Câmara tem apresentado a cidade como “segura” e “resiliente” mas para o Conselho Português de Proteção Civil (CPPC) falta um sistema de difusão celular para aviso das populações sobre procedimentos a tomar durante e após o sismo.
“Não basta dizer às pessoas que devem abrigar-se debaixo de uma mesa, ainda para mais quando nem se explica que tipo se deve utilizar”, refere João Paulo Saraiva, do CPPC, criticando as ações de prevenção anunciadas. “Tem sido feito muito pouco em termos de informação às pessoas”, acusa.
Para o especialista, a tecnologia atual permite o recurso a um sistema de difusão celular, com aviso via telemóvel dos procedimentos a seguir. “Apresentámos essa proposta ao Ministério da Administração Interna, em 2011, tal como a Autoridade Nacional de Proteção Ci- vil, já o havia feito, mas nunca obtivemos resposta”, assegura.
João Paulo Saraiva recorda que, tal como em 1755, um terramoto seria muito provavelmente seguido de um tsunami. “Atualmente, tudo está baseado na informação difundida pelos meios de Comunicação Social. Mas se, por exemplo, o fenómeno ocorrer durante a noite, quantos cidadãos estarão a ver televisão ou a ouvir rádio? O sistema de difusão celular avisá-los-ia em tempo real e poupar-se-iam milhares de vidas”, destaca.
Opiniões diversas
Quanto às consequências de um sismo idêntico ao que destruiu Lisboa, as opiniões dividem-se. Carlos Mota, comandante da Proteção Civil Distrital de Lisboa, desdramatiza, lembrando que “desde os anos 50 que os edifícios são construídos com vigas e pilares em betão armado”. Nota que, com base no que se observa em grandes sismos noutros países, “este tipo de construção resiste e só caem aquelas que são assentes em pedra”. “Um sismo é sempre imprevisível, mas não devemos embarcar por essas teorias que vai tudo abaixo”, destaca.
Já Luís Guerreiro, da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, diz que se “deve olhar com muita atenção para esta temática, tendo como base uma rigorosa avaliação do que se constrói de novo e de uma análise do que é mais antigo, de modo a podermos introduzir correções nas situações de risco”.
Já João Paulo Saraiva considera que muitos edifícios públicos, alguns que seriam de importância fundamental no socorro, apresentam vulnerabilidades. “Veja-se o caso dos hospitais de S. José, Santa Marta, ou o quartel dos sapadores. São construções antigas, logo, muito vulneráveis”, conclui.