Jornal de Notícias

José Rodrigues dos Santos O segredo do sucesso do escritor mais vendido em Portugal

Best-seller Especialis­tas esmiúçam as razões do êxito do autor, na semana em que um novo livro foi lançado

- Sérgio Almeida sergio@jn.pt

É, de longe, o escritor português mais popular. Cada novo livro que José Rodrigues dos Santos (JRS) escreve é sinónimo de vendas em série. O novo, “As flores de lótus”, foi publicado no final da semana passada e já se alcandorou, como é hábito, aos primeiros postos das tabelas de vendas: nos tops da Bertrand e da Fnac encontra-se no segundo lugar, logo atrás do novo Astérix.

No total, os 13 romances já publicados terão vendido perto de três milhões de exemplares. Números faraónicos num país onde os hábitos de leitura continuam a ser dos mais baixos da Europa, justifican­do o desafio lançado pelo JN a um punhado de especialis­tas do meio literário, editorial e livreiro: quais, afinal, as razões pelas quais os seus livros vendem tanto?

A notoriedad­e televisiva é um argumento que atravessa quase todas as respostas. Mário Cláudio, por exemplo, define-o como “um ícone familiar”: “Ser o pivô que anuncia as notícias confere-lhe um lugar de grande destaque”. Mas, como sublinha o consultor editorial Tito Couto, a telegenia de nada lhe serviria se “o romance não satisfizes­se os leitores”.

“As pessoas tendem a escolher o que reconhecem. Se reconhecem os temas tratados nos livros, se reconhecem o autor e a sua credibilid­ade e se ele responde anualmente com um novo trabalho, estabelece-se uma relação de confiança”, explica.

“Academicam­ente mal visto”

O estilo – ou a ausência dele – não foi esquecido nas respostas. José Mário Silva, coordenado­r da secção de Livros no semanário “Expresso”, destaca a eficácia associada a uma “escrita plana, funcional, descritiva”, mas também “sem rasgo, aqui e ali pomposa, muitas vezes ridícula”.

A escolha cuidada dos temas de cada romance não é também alheia ao êxito. Da crise energética ao terrorismo, cada novo livro traz, na maior parte das vezes, um tema fraturante que lhe permite, ainda segundo Tito Couto, “uma relação muito direta com o real”.

Por último, mas não menos importante, o marketing. Livreiro com largas décadas de experiênci­a, Antero Braga aponta “a profission­alização da divulgação” dos seus livros, capaz de envolver meios pouco frequentes entre nós, como uma razão do êxito. E até mesmo o ‘timing’ das polémicas em que frequentem­ente se vê envolvido (como aconteceu ainda há semanas com Alexandre Quintanilh­a) parece obedecer ao propósito claro de aumentar a notoriedad­e nos períodos de promoção do livro. “Não há coincidênc­ias”, assevera.

Miguel Real, escritor e crítico literário, compara-o a Pinheiro Chagas, autor de grandes êxitos no século XIX mas que ficou na penumbra, ao contrário de Eça de Queirós. “A obra de JRS é academicam­ente mal vista, porque nada de novo traz às categorias de personagem, ação, enredo ou tempo. Não possui um estilo singular”.

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 ??  ?? Simplicida­de da escrita, notoriedad­e televisiva e eficaz gestão da imagem são alguns dos principais motivos que contribuem para o êxito de JRS
Simplicida­de da escrita, notoriedad­e televisiva e eficaz gestão da imagem são alguns dos principais motivos que contribuem para o êxito de JRS

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