José Rodrigues dos Santos O segredo do sucesso do escritor mais vendido em Portugal
Best-seller Especialistas esmiúçam as razões do êxito do autor, na semana em que um novo livro foi lançado
É, de longe, o escritor português mais popular. Cada novo livro que José Rodrigues dos Santos (JRS) escreve é sinónimo de vendas em série. O novo, “As flores de lótus”, foi publicado no final da semana passada e já se alcandorou, como é hábito, aos primeiros postos das tabelas de vendas: nos tops da Bertrand e da Fnac encontra-se no segundo lugar, logo atrás do novo Astérix.
No total, os 13 romances já publicados terão vendido perto de três milhões de exemplares. Números faraónicos num país onde os hábitos de leitura continuam a ser dos mais baixos da Europa, justificando o desafio lançado pelo JN a um punhado de especialistas do meio literário, editorial e livreiro: quais, afinal, as razões pelas quais os seus livros vendem tanto?
A notoriedade televisiva é um argumento que atravessa quase todas as respostas. Mário Cláudio, por exemplo, define-o como “um ícone familiar”: “Ser o pivô que anuncia as notícias confere-lhe um lugar de grande destaque”. Mas, como sublinha o consultor editorial Tito Couto, a telegenia de nada lhe serviria se “o romance não satisfizesse os leitores”.
“As pessoas tendem a escolher o que reconhecem. Se reconhecem os temas tratados nos livros, se reconhecem o autor e a sua credibilidade e se ele responde anualmente com um novo trabalho, estabelece-se uma relação de confiança”, explica.
“Academicamente mal visto”
O estilo – ou a ausência dele – não foi esquecido nas respostas. José Mário Silva, coordenador da secção de Livros no semanário “Expresso”, destaca a eficácia associada a uma “escrita plana, funcional, descritiva”, mas também “sem rasgo, aqui e ali pomposa, muitas vezes ridícula”.
A escolha cuidada dos temas de cada romance não é também alheia ao êxito. Da crise energética ao terrorismo, cada novo livro traz, na maior parte das vezes, um tema fraturante que lhe permite, ainda segundo Tito Couto, “uma relação muito direta com o real”.
Por último, mas não menos importante, o marketing. Livreiro com largas décadas de experiência, Antero Braga aponta “a profissionalização da divulgação” dos seus livros, capaz de envolver meios pouco frequentes entre nós, como uma razão do êxito. E até mesmo o ‘timing’ das polémicas em que frequentemente se vê envolvido (como aconteceu ainda há semanas com Alexandre Quintanilha) parece obedecer ao propósito claro de aumentar a notoriedade nos períodos de promoção do livro. “Não há coincidências”, assevera.
Miguel Real, escritor e crítico literário, compara-o a Pinheiro Chagas, autor de grandes êxitos no século XIX mas que ficou na penumbra, ao contrário de Eça de Queirós. “A obra de JRS é academicamente mal vista, porque nada de novo traz às categorias de personagem, ação, enredo ou tempo. Não possui um estilo singular”.