Jornal de Notícias

Três freiras e um padre escravizav­am noviças

PJ apreendeu vários objetos usados para flagelar irmãs da Fraternida­de Missionári­a Cristo Jovem em Requião, Famalicão

- Alexandra Lopes policia@jn.pt António Soares

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Polícia Judiciária (PJ) apreendeu ontem vários objetos usados para castigar e flagelar noviças da Fraternida­de Missionári­a Cristo Jovem, em Requião, Famalicão, tendo constituíd­o arguidos um padre e três irmãs, por crimes de maustratos, rapto e escravidão. Desobediên­cias e mau desempenho nas tarefas que eram impostas às jovens tinham como resposta agressões ou penitência­s desumanas. Noviças que conseguira­m fugir denunciara­m a situação à diocese de Braga, há um ano (ver comunicado na página seguinte), mas só recentemen­te a Igreja fez chegar o caso à Judiciária.

Uma equipa de inspetores da Diretoria do Norte da PJ fez ontem buscas nas instalaçõe­s da Fraternida­de, procurando provas das práticas violentas que haviam sido denunciada­s pelas três noviças fugitivas. Para além dos castigos, as jovens, que ali ingressava­m adolescent­es e permanecia­m durante anos, não podiam abandonar a Fraternida­de mesmo que o quisessem e eram impedidas de sair das instalaçõe­s. Foram relatados também casos de jovens doentes às quais foi proibido o acesso a tratamento.

Esta não foi a primeira vez que a Fraternida­de esteve envolvidas em situações polémicas (ver texto na página seguinte), mas só agora o caso chegou à justiça. Segundo os relatos das alegadas vítimas, estas eram obrigadas a trabalho escravo nos campos que são propriedad­e da instituiçã­o, para além de trabasegui­r lhos domésticos. Qualquer falha no desempenho ou de indiscipli­na eram castigada com agressões à bofetada ou penitência­s que poderiam incluir, por exemplo, largas horas de permanênci­a de joelhos, ou outras sevícias mais perto das práticas de ordens medievais.

Segundo o advogado da Fraternida­de, Ernesto Salgado, as denúncias partiram de “três noviças em anos distintos”. “Há dois anos, uma primeira noviça, e, no ano transato, duas noviças que não quiseram a vocação”, adiantou o causídico.

Imediatame­nte depois das buscas terminarem, Ernesto Salgado, acompanhad­o pela irmã Isabel, confirmou que duas religiosas tinham sido levadas para as instalaçõe­s da PJ, para serem ouvidas “como testemunha­s”. Confirmou também, que “três freiras e um padre” da Fraternida­de tinham sido constituíd­os arguidos. Serão inquiridos pelo Ministério Público, na próxima segunda feira.

A Fraternida­de Missionári­a Cristo Jovem está instalada numa propriedad­e de quatro hectares, totalmente murada. Ali, existem vários locais de culto, como o presépio, a “Cruz do Amor”, o presépio, o monumento da Nossa Senhora da Paz, entre outros. No segundo domingo de cada mês, o convento recebe visitantes, sendo grande o movimento de autocarros e carros. A notícia da presença da PJ no convento apanhou a população de surpresa. Ernesto Salgado afirmou ainda que estava ali com a irmã Isabel apenas para “mostrar que a casa é aberta sempre que a quiserem visitar”.

Há cerca de cinco anos, um elemento daquela irmandade terá fugido da instituiçã­o saltando o muro e pedindo ajuda numa casa próxima, contou ao JN um casal, sob anonimato. “Ela entrou e pediu para ligar aos pais, mas eu olhei para a saia e perguntei lhe se ela não era do convento”, continuou. “Ela disse que sim, e ligamos à mãe, que pediu para a guardarmos até ela chegar”, afirmou. Segundo o casal, a jovem, que deveria ter “18, 20 anos”, não disse por que saiu do convento.

Qualquer falha no desempenho de tarefas era castigada violentame­nte

 ??  ?? Cerca de 30 inspetores da Diretoria do Norte da Polícia Judiciária fizeram buscas nas instalaçõe­s da Fraternida­de
Cerca de 30 inspetores da Diretoria do Norte da Polícia Judiciária fizeram buscas nas instalaçõe­s da Fraternida­de
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Advogado Ernesto Salgado e irmã Isabel deram explicaçõe­s aos jornalista­s

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