Três freiras e um padre escravizavam noviças
PJ apreendeu vários objetos usados para flagelar irmãs da Fraternidade Missionária Cristo Jovem em Requião, Famalicão
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Polícia Judiciária (PJ) apreendeu ontem vários objetos usados para castigar e flagelar noviças da Fraternidade Missionária Cristo Jovem, em Requião, Famalicão, tendo constituído arguidos um padre e três irmãs, por crimes de maustratos, rapto e escravidão. Desobediências e mau desempenho nas tarefas que eram impostas às jovens tinham como resposta agressões ou penitências desumanas. Noviças que conseguiram fugir denunciaram a situação à diocese de Braga, há um ano (ver comunicado na página seguinte), mas só recentemente a Igreja fez chegar o caso à Judiciária.
Uma equipa de inspetores da Diretoria do Norte da PJ fez ontem buscas nas instalações da Fraternidade, procurando provas das práticas violentas que haviam sido denunciadas pelas três noviças fugitivas. Para além dos castigos, as jovens, que ali ingressavam adolescentes e permaneciam durante anos, não podiam abandonar a Fraternidade mesmo que o quisessem e eram impedidas de sair das instalações. Foram relatados também casos de jovens doentes às quais foi proibido o acesso a tratamento.
Esta não foi a primeira vez que a Fraternidade esteve envolvidas em situações polémicas (ver texto na página seguinte), mas só agora o caso chegou à justiça. Segundo os relatos das alegadas vítimas, estas eram obrigadas a trabalho escravo nos campos que são propriedade da instituição, para além de trabaseguir lhos domésticos. Qualquer falha no desempenho ou de indisciplina eram castigada com agressões à bofetada ou penitências que poderiam incluir, por exemplo, largas horas de permanência de joelhos, ou outras sevícias mais perto das práticas de ordens medievais.
Segundo o advogado da Fraternidade, Ernesto Salgado, as denúncias partiram de “três noviças em anos distintos”. “Há dois anos, uma primeira noviça, e, no ano transato, duas noviças que não quiseram a vocação”, adiantou o causídico.
Imediatamente depois das buscas terminarem, Ernesto Salgado, acompanhado pela irmã Isabel, confirmou que duas religiosas tinham sido levadas para as instalações da PJ, para serem ouvidas “como testemunhas”. Confirmou também, que “três freiras e um padre” da Fraternidade tinham sido constituídos arguidos. Serão inquiridos pelo Ministério Público, na próxima segunda feira.
A Fraternidade Missionária Cristo Jovem está instalada numa propriedade de quatro hectares, totalmente murada. Ali, existem vários locais de culto, como o presépio, a “Cruz do Amor”, o presépio, o monumento da Nossa Senhora da Paz, entre outros. No segundo domingo de cada mês, o convento recebe visitantes, sendo grande o movimento de autocarros e carros. A notícia da presença da PJ no convento apanhou a população de surpresa. Ernesto Salgado afirmou ainda que estava ali com a irmã Isabel apenas para “mostrar que a casa é aberta sempre que a quiserem visitar”.
Há cerca de cinco anos, um elemento daquela irmandade terá fugido da instituição saltando o muro e pedindo ajuda numa casa próxima, contou ao JN um casal, sob anonimato. “Ela entrou e pediu para ligar aos pais, mas eu olhei para a saia e perguntei lhe se ela não era do convento”, continuou. “Ela disse que sim, e ligamos à mãe, que pediu para a guardarmos até ela chegar”, afirmou. Segundo o casal, a jovem, que deveria ter “18, 20 anos”, não disse por que saiu do convento.
Qualquer falha no desempenho de tarefas era castigada violentamente