Jornal de Notícias

“A casa tremia a cada tiro”

- SAINT-DENIS ALEXANDRE PANDA, Iselena Vieira LUSA

Iselena Vieira, uma portuguesa de 28 anos natural de Loures, vive a poucos metros do apartament­o de Saint-Denis visado ontem nas operações da Polícia francesa. Acordou com os tiros, de madrugada. Ela, a filha de sete anos e o pai tiveram de se trancar, apagar as luzes e fechar todas as janelas do apartament­o do número 5 da Rue du Corbillon, enquanto no número 8 a Polícia tomava de assalto a casa onde estavam terrorista­s.

“Acordei com o barulho dos tiros e fui logo ver à janela o que se passava. Havia homens encapuzado­s que gritavam que eram polícias e que devíamos apagar as luzes e fechar as janelas. Nunca tive tanto medo na minha vida. Seguiu-se uma hora em que os tiros não pararam. A casa tremia a cada tiro. No início até pensei que fosse outro atentado, mesmo aqui à nossa porta”, contou Iselena ao JN.

A mulher, o pai e a filha juntaram-se todos no mesmo quarto até que o barulho incessante das metralhado­ras acalmasse. “Ouvia os polícias a gritar para os terrorista­s, para que eles se rendessem e levantasse­m as mãos. Durante uma hora houve sempre tiros e depois deixei de ouvir gritos. Só muito mais tarde é que ouvi uma explosão. Não sabíamos o que era. Só depois de ligar a televisão, às 8.30 horas, é que soubemos que era a mulher terrorista que se tinha feito explodir”, contou ainda a emigrante, que só saiu à rua por volta do meio-dia.

Iselena vive naquela rua há apenas um mês e nunca tinha visto os terrorista­s naquele bairro dos subúrbios de Paris. “Há aqui muitos imigrantes, de muitas nacionalid­ades, mas não me recordo de ter visto as caras dos terrorista­s aqui na zona. Só vi a cara deles nos jornais e na televisão”.

Ruas fechadas

António dos Santos, de 56 anos, também ficou retido em casa, na Rue de la République, também em Saint-Denis e muito próximo do local da confusão. “Disseram que estava alguém numa casa, que havia jiadistas, e fecharam toda a rua. Da janela – moro ao lado da Mairie [câmara municipal] – vi muitos carros da Polícia, bombeiros e muitos polícias. Depois ouvi algumas explosões e estou a ver pela televisão o que se está a passar”, descreveu o português.

28 anos, natural de Loures

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