Aqui tão perto
Programa Casa da Música acolhe ao longo do próximo ano a maior mostra de música russa de sempre. Sokolov e Berezovski são presenças garantidas
Mais de um quarto dos 113 concertos que a Casa da Música (CdM), no Porto, vai promover ao longo do próximo ano tem um denominador comum: a Rússia, que, deste modo, sucede à Alemanha como país-tema.
A “maior mostra de música russa jamais levada a cabo em Portugal”, como afirmou ontem ao início da noite o diretor artístico e de educação da CdM, António Jorge Pacheco, pretende homenagear o berço de alguns dos maiores génios musicais de todos os tempos. Como Sergei Prokofiev e Sergei Rachmaninoff, de quem serão interpretadas as monumentais integrais, respetivamente as sete sinfonias e os quatro concertos para piano e orquestra.
Logo no arranque do “Ano Rússia”, em janeiro, acontece um dos pontos altos de todo o programa, quando a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música interpretar “Sagração da primavera”, a imortal obra de Igor Stravinski.
Os 30 eventos inseridos no “Ano Rússia” não se limitam a glorificar o passado. Pela Sala Suggia vão passar artistas do presente da estirpe de Grigory Sokolov, Boris Berezovski, Alina Ibragimova, Natalia Gutman, Dmitri Sinkovsky Elisso Virsaladze ou Michail Jurowski.
A influência russa contamina de modo transversal todo o programa, incluindo festivais internos há muito consolidados na estrutura da CdM. É disso exemplo o ciclo “Invicta.Música.Filmes”, em que vão ocorrer dois momentos de homenagem à alma russa. Des- tes, destaca-se a projeção do filme do bailado “Romeu e Julieta”, de Prokofiev, acompanhado ao vivo pela orquestra sinfónica residente.
Também no já habitual ciclo “Música & revolução”, que se realiza em abril, serão audíveis as influências russas. Os compositores perseguidos pelo regime soviético serão alvo de uma atenção especial. De Dmitri Chostakovitch serão executadas duas obras incontornáveis: a primeira, “Sinfonia para a revolução”, valeu-lhe críticas impiedosas dos dirigentes russos, enquanto a segunda, “Sinfonia 1.º de maio”, foi concebida com o propósito de louvar os ideais revolucionários.
O programa contém ainda a curiosidade de trazer pela primeira vez a Portugal o neto de Sergei Prokofiev, Gabriel de seu nome, um prolífico DJ e produtor que terá a ocasião de ver o seu “Concerto para turntables e orquestra” interpretado por uma orquestra e um DJ, “numa ponte entre a música erudita e o hip hop”, como sublinhou o diretor artístico.
No segundo semestre, o destaque incide, além do jazz, com um programa fortíssimo (ler caixa), no ciclo “Transgressões”, em que tanto cabem novas orquestrações e arranjos de obras de Bach e Brahms como a Sinfonia n.º 9 de Gustav Mahler, “a primeira sinfonia conhecida em que todos os andamentos são escritos numa tonalidade diferente”.