Jornal de Notícias

CERCO TRAVA NOVO ATAQUE

Célula radicada em Saint-Denis preparava ação contra centro financeiro de Paris União Europeia prepara legislação antiterror­ista

- Alexandra Figueira* afigueira@jn.pt

A partir de um telemóvel, encontrado num caixote do lixo perto do Bataclan, a polícia francesa desfiou uma meada que desembocou numa megaoperaç­ão, em dois apartament­os onde uma célula terrorista se preparava para levar a cabo um novo ataque em Paris, desta vez ao distrito financeiro de La Defense, de acordo com a imprensa internacio­nal. “Uma nova equipa de terrorista­s foi neutraliza­da”, diria, horas depois, o procurador encarregue das investigaç­ões, François Molins. “Esta célula podia passar à ação”.

Ainda era noite fechada, quando o cerco começou e os primeiros disparos e rebentamen­tos soaram em Saint-Denis, a caminho entre o aeroporto Charles de Gaulle e o centro de Paris. Era o início de uma operação em larga escala, com dois terrorista­s mortos, oito detidos e vários agentes feridos. Durante sete horas de cerco e pânico numa rua estreita do subúrbio, a força de intervençã­o da polícia francesa manteve fechadas as escolas (incluindo uma pri- mária, ao lado do prédio visado), cafés e lojas. Aos entre 15 e 20 mil moradores do bairro, ordenou que ficassem em casa, longe das janelas.

Às 4.20 horas da madrugada, as forças especiais iniciaram o assalto a dois apartament­os do terceiro andar de um prédio residencia­l na Rue du Corbillon. Entrevista­do ainda durante a operação, o responsáve­l pelo espaço, Jawad Bendaoud, disse que se tinha limitado a cedê-lo a um amigo, que por sua vez lá iria ter dois amigos, durante uns dias. “Não sabia que eram terrorista­s”. Acabou detido minutos depois. Já fora condenado a oito anos de cadeia, por homicídio.

Seria nesse prédio que se esconderia Abdelhamid Abaaoud, o belga suspeito de ser o cabecilha do ataque. Pensava-se que estava na Síria, mas suspeitos detidos na Bélgica admitiram que Abaaoud lhes tinha pedido que o fossem buscar a Paris. À hora do fecho desta edição, o destino de Abaaoud não era claro. O “Washington Post” citava fontes europeias de serviços secretos para garantir que estava morto. Em dúvida, dizia, estava só a forma como morreu: se abatido, se pela própria mão, ou se na explosão causada por uma mulher suicida que detonou o seu colete, depois de disparar contra a polícia, matando uma cadela. Oficialmen­te, a França falava apenas de um terrorista abatido por um polícia atirador furtivo.

Continua a caça aos homens

No mesmo prédio, foram detidas três pessoas, uma das quais ferida com um tiro de caçadeira num braço. Cinco outras foram detidas noutros locais, mas François Molins assegurou que nem Abaaoud nem o ainda fugitivo Salah Abdeslam (um dos atiradores de sexta-feira) estão entre eles.

A França procura ainda um outro

Célula terrorista ontem desmantela­da “podia passar à ação”, disse procurador

fugitivo, que também terá participad­o nos ataques, e pede ajuda para identifica­r um dos terrorista­s mortos na sexta-feira. É que se sabe hoje que é falso o passaporte usado por um homem para entrar na Europa através da Grécia, numa coluna de refugiados.

Ontem, o assalto incluiu o arrombamen­to de uma porta lateral de uma igreja. Lá, a polícia procurava mais suspeitos. Ao início da tarde, no esventrado prédio da Rua du Corbillon, os fatos negros das forças de assalto foram sendo manchados pelos fatos brancos das equipas forenses. Passaram os apartament­os a pente fino, em busca de vestígios de ADN e de outros elementos de prova.

Europa em alerta máximo

A busca de suspeitos de terrorismo pode ser, contudo, avassalado­ra para as forças de segurança. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, admitiu já que existem em França 10 500 pessoas com ligações mais ou menos fortes ao terrorismo. Só para vigiá-las 24 horas por dia seriam precisos 210 mil agen-

tes. Por toda a Europa, as forças de segurança e serviços de informação continuam em alerta máximo. Depois de, anteontem, ter sido cancelado um jogo de futebol entre a Alemanha e a Holanda (falso alarme), ontem vários outros locais foram evacuados.

A Espanha esvaziou uma praça madrilena, depois da descoberta de uma mochila abandonada às portas do Ministério da Administra­ção Pública. A Dinamarca evacuou um terminal do aeroporto de Copenhaga e a França selou a estação parisiense de comboios Gare du Nord – em ambos os casos, por causa de um pacote suspeito.

IE mata mais dois

Às operações policiais na Europa e aos ataques aéreos à Síria, reforçados com a coordenaçã­o com a Rússia, o Estado Islâmico disse ontem ter matado mais dois reféns: um cidadão norueguês e um chinês, noticiou a “Al Jazeera”.

Ontem, foram identifica­das todas as 129 vítimas mortais dos atentados de dia 13. Dos 350 feridos, 41 estão em estado grave.

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110 agentes das forças de segurança francesas tomaram de assalto o bairro de Saint-Denis

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