Jornal de Notícias

França Emigrante recorda infância de terrorista que degolou padre

França Emigrante português em Saint-Étienne-du-Rouvray descreve Abdel-Malik Petit-Jean, o terrorista que foi colega de escola do filho

- Emília Monteiro mundo@jn.pt

No dia em que a França saiu à rua numa marcha pela paz e a união de religiões em homenagem ao pároco Jacques Hamel, morto no ataque terrorista de dia 26 à igreja de Saint-Étienne-du-Rouvray, o JN falou com um português que vive na pequena vila de Rouen e cujo filho foi amigo de escola de um dos atacantes, Abdel-Malik Petit-Jean. Retrata uma criança normal radicaliza­da na prisão onde foi parar por pequenos furtos. O percurso que, afinal, poderá ser comum a muitos dos terrorista­s que têm abalado a França (ver texto em caixa).

“Andaram todos juntos no colégio, de vários países e de várias religiões, e eram todos amigos”, recorda François Pereira, falando em nome do filho, que, por razões de segurança, mantém o anonimato.

Este fim de semana seria o de encontro para as férias da família Pereira, numa pequena aldeia do concelho de Vila Verde, no Minho. Mas nem todos estarão presentes. “É complicado”, afirma o pai do jovem português colega de escola do alegado militante do autoprocla­mado Estado Islâmico .

Na escola, Abdel era conhecido pelo sentido de humor e pelas piadas que contava mesmo durante as aulas. “Dizem que era muito simpático”. Com o cresciment­o, Abdel, morador num bairro onde também habitavam famílias de várias nacionalid­ades, foi cometendo pequenos crimes. Aos 16 anos terá sido preso pela primeira vez. François acredita que foi na prisão que teve os primeiros contactos com os extremista­s islâmicos. “Esteve preso várias vezes e, no dia em que assassinou o padre Jacques Hamel, estava com pulseira eletrónica”.

Aos colegas, chegaram informaçõe­s de que por duas vezes tentou viajar para a Síria. Sem sucesso. Uma vez foi detido na Alemanha e reencaminh­ado para França. Da segunda vez, já com outra rota de viagem, acabou retido na Turquia e também enviado de volta. “Os contactos na prisão e os contactos que mantinha pela Internet com outros islamitas foram os culpados pelo extremismo”, diz François Pereira.

No dia do ataque em Saint-Étien- ne-du-Rouvray, a perplexida­de começou com a morte do sacerdote estimado por todos e cresceu quando foi conhecida a identidade de um dos agressores. “As pessoas lembram-se de quando Abdel era um rapaz normal, amigo dos nossos filhos, e ninguém conseguia imaginar que, um dia, ia tornar-se radical”.

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Na tradiciona­l foto de turma, Abdel é o rapaz de pé, à direita

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