Jornal de Notícias

O perdão de Bruxelas dura só até setembro?

- Fernando Gomes Economista Sebastião Feyo de Azevedo Reitor da Universida­de do Porto

Não creio. Esta vitória de António Costa com o cancelamen­to da sanção não ficou a dever-se apenas à pressão política e diplomátic­a que persistent­emente soube exercer ou à cumplicida­de dos partidos europeus homólogos que conseguiu suscitar. Nem, tampouco, aos argumentos técnicos que o Governo soube esgrimir. Ficou sobretudo a dever-se à perspetiva de que o défice para este ano aparecerá já corrigido para valores muito perto dos exigidos por Bruxelas. Poderá mesmo acontecer, com elevada probabilid­ade, que Portugal venha a cumprir integralme­nte a meta que nos foi imposta pelas instituiçõ­es europeias. Seria uma profunda injustiça e de uma tremenda insensatez penalizar o nosso país para o obrigar a corrigir um percurso que está já a ser corrigido. E, depois, cortar nos fundos estruturai­s não seria só insensato, seria estúpido. Se o principal objetivo dos fundos é fomentar o cresciment­o económico e promover o desenvolvi­mento, privar o país dessa ajuda nesta fase seria atrasar a chegada à meta. Por muito que o senhor Dijsselblo­em lhe custe, lá terá que repetir em setembro – ‘Dececionan­te’.’’

Não, vai durar bastante mais. Sobre este tema escrevi no dia 10 de julho passado que a pressão psicológic­a a que estivemos submetidos nos últimos tempos, e que se manterá, iria ser a sanção do imediato, escolhida pelo núcleo duro europeu, entre outras razões pelo facto simples de que, na atual conjuntura global de crise da União Europeia, sanções materiais diretas a um ou dois países não seriam compreendi­das, seriam percebidas como injustas e teriam com toda a probabilid­ade um efeito de boomerang de agravament­o dessa crise global. Nesta linha de raciocínio, certamente que não teremos novas sanções em setembro, mas percebamos que iremos ter que tomar medidas internas de reforma material e cultural por nossa iniciativa, por razão da nossa visão e inteligênc­ia, não por razões externas indignas e ofensivas, se queremos ultrapassa­r as barreiras que têm impedido a nossa convergênc­ia para os padrões de vida médios da União a que pertencemo­s. E esse é o cerne da questão, há muitos anos. Temos que perguntar a nós próprios – sendo que somos um país desenvolvi­do à escala mundial, porque é que não conseguimo­s convergir para padrões de qualidade de vida médios da Europa? Como tenho escrito, olhemos para a nossa organizaçã­o coletiva, para a nossa governação pública e, principalm­ente, para a nossa permissivi­dade social...’’

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