Depois do calor, o frio
Com o calor a apertar e um previsível agosto a escaldar, a convidar à praia, descanso, gastronomia e noites quentes, nada melhor que o presidente Marcelo para classificar um fim de julho quente e em que Portugal esteve no fio da navalha de Bruxelas: “A crise política evaporou-se”. Sim, os frios comissários do Norte da Europa saíram derrotados e resta-lhes marcar férias no Sul para retemperarem as forças.
É que setembro pode voltar a atingir altas temperaturas, desta vez na política interna e externa. A Comissão Europeia vai voltar à carga com o fantasma das sanções e com a (possível) suspensão dos fundos comunitários e a expectativa, no cantinho da Península Ibérica, é saber se Pedro Passos Coelho vai continuar a sua estratégia de tentar desmembrar a geringonça criada por António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.
Com a austeridade a perdurar durante mais um ano – pelo menos –, os desafios de António Costa não se afiguram fáceis, para não dizer dificílimos. Ao que tudo indica, o seu otimismo natural irá manter-se em contraponto ao pessimismo, também natural, do líder do PSD.
Neste round, o primeiro-ministro saiu vencedor: não houve multa a Portugal pelo défice excessivo, o empréstimo do Estado à Caixa Geral de Depósitos parece estar bem encaminhado e continua a ter um aliado de peso que é o presidente da República. A execução orçamental está a favor do Governo, completamente controlada, apesar de o emprego estar no crescimento mínimo, parte da despesa do Estado estar adiada e o investimento praticamente cancelado.
A verdade é que, perante todos os obstáculos, este Governo socialista tem conseguido ultrapassar os desafios colocados. Daí que é pouco crível que exista alguma instabilidade política nos próximos tempos… a não ser que o PCP e Os Verdes não estejam pelos ajustes com o que surgirá na proposta de Orçamento do Estado de 2017. Mesmo aí, o mais certo é que os comunistas tapem a cara, como aconteceu há 30 anos na eleição presidencial de Mário Soares contra Freitas do Amaral. “Se for preciso tapem a cara com uma mão e votem com outra”, pediu na altura o líder comunista Álvaro Cunhal. É o que poderá acontecer em outubro quando for votado o OE2017 no Parlamento.
É bom que depois da acalmia de verão não venha uma tempestade e o Governo dê para 2017 alguns sinais de aposta nas exportações e no investimento, principalmente o estrangeiro. Só com o crescimento da economia é possível atingir um défice de 2,2% no próximo ano.