Jornal de Notícias

Aoife, a irlandesa de olhos azuis

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nológicas internacio­nais que, por causa dos impostos baratos, se instalaram sobretudo na capital Dublin. São lugares de sonho para trabalhar, uma visita à Google faz lembrar que voltámos para a faculdade e somos muito novos outra vez. Mas há lá também paisagens deslumbran­tes, música, simpatia, pubs para todos os gostos, poesia, literatura e arte. E nestes dias há até sol.

Com receio de viajar para o centro da Europa, muito penalizada por questões de segurança, a viagem de família deste verão rumou a norte, até à ilha dividida da Irlanda. Curiosamen­te um dos últimos lugares do Ocidente europeu onde o terrorismo – católicos contra protestant­es, na Irlanda no Norte – causou muitas centenas de mortos que durante quase quatro décadas (1960-1994) encheram os noticiário­s de todo o Mundo de sangue e terror.

As diferenças entre as duas comunidana­s des – “Os problemas” como a eles se referem – são ainda muito visíveis e, em quase todas as povoações do Ulster, uma das quatro regiões da Irlanda, dividida entre os dois lados da barricada, se percebe uma enorme tensão traduzida ainda hoje em murais de guerrilhei­ros de parede inteira e milhares de bandeiras do Reino Unido penduradas nas portas de casa. No mínimo são sinais, no máximo ameaças. O ambiente é pacífico mas o problema ainda lá está. Nítido como um trevo, saboroso como uma Guiness, suave como um Bushmills.

Mas voltemos à rapariga de olhos azuis que entrega carros no aeroporto de Dublin. Na conversa perguntei-lhe o nome. Ela logo me respondeu – Aoife. Aoife? Nunca tinha ouvido. Pigarreei para tirar a surpresa da voz antes de voltar a perguntar – I am sorry! Não percebi! Aprende-se viagens que os nomes são coisas sérias e nunca nos devemos enganar. – Aoife, repetiu ela com um sorriso tão grande que aumentaram ainda mais os seus olhos deslumbran­tes – Significa beleza, e era o nome de uma princesa guerreira que passou a vida a ajudar os outros. Como eu!

Aí eu ri, talvez demasiado alto, para não me mostrar intimidado pelo azul profundo que emanava. Mas não resisti à pergunta. – Aqui os nomes são sempre dados a quem os merece? – Sim, sempre! E fazendo sorrir ainda mais aqueles olhos impossívei­s disse, entre a ironia e o atreviment­o (e com um fabuloso sotaque irlandês) – Mas nem sempre as pessoas percebem isso. Nem os que me ouvem, nem os que eu admiro.

Nunca tinha pensado nisso.

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