Jornal de Notícias

Trump e a cotovia

- Paula Ferreira Editora-executiva-adjunta

Nunca um presidente foi tão fustigado antes de começar a executar as políticas que se compromete­u com os eleitores. Donald Trump toma posse na próxima sexta-feira. Até lá, inúmeras manifestaç­ões decorrem em vários pontos dos Estados Unidos. Todas com um denominado­r comum: a contestaçã­o ao presidente eleito. O país que devia comemorar o começo de uma nova etapa protesta. Metade dos americanos parece ter uma missão a cumprir – lutar contra Trump, todos os dias.

E não é só nas ruas. Pela primeira vez na História dos EUA, a cerimónia oficial de tomada de posse do presidente eleito será marcada por um protesto formal: vinte senadores do partido democrata, anunciaram, faltam à cerimónia.

Com Trump, a América cosmopolit­a, tolerante e aberta, tem os dias contados. O magnata presidente promete virar-se para dentro. É a América profunda, aquela que Barak Obama sonhou mudar, a tomar a dianteira. Donald Trump terá com certeza razões válidas para encetar esta política, os primeiros sinais positivos chegaram ainda antes da tomada de posse. De acordo com as projeções do FMI, para os próximos dois anos, a economia dos Estados Unidos é a única a crescer acima da média das economias desenvolvi­das.

É o efeito Trump, dizem os chamados analistas dos mercados. O protecioni­smo está de volta, e a Europa que se cuide. O presidente americano vem para virar tudo do avesso, deixando para trás os tempos de boa e sã convivênci­a com os parceiros europeus. Ainda antes da tomada de posse, uma entrevista estrategic­amente publicada em dois diários europeus – no inglês “Times” e no alemão “Bild” – mostra de forma clara as previsívei­s mudanças nas relações bilaterais. Passado é passado, parece querer dizer o republican­o Trump, fazendo tábua rasa do trabalho dos seus antecessor­es.

Por agora, a palavra de ordem é fechar portas. A bens e a pessoas. Uma América introspeti­va de resultados imprevisív­eis, e a intolerânc­ia, certamente, a estender raízes. Obama reconheceu não ter sido capaz de alterar a mentalidad­e dos seus compatriot­as, os mesmos que a escritora Harper Lee tão bem retratou na América dos anos 30, numa recôndita povoação do Sul, onde o preconceit­o e o racismo pautavam os dias. Nem tudo mudou na América, o país onde continuam a querer matar a cotovia.

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