25 de Abril foi festa para todos
Presidente da República pede melhor distribuição da riqueza e apela a nacionalismo contra populismo
Marcelo Rebelo de Sousa tinha prometido que na sessão evocativa do 25 de Abril no Parlamento não iria falar da “conjuntura política”. Mas, mais uma vez, o presidente da República trocou as voltas ao óbvio: assumiu que, por ele, a atual legislatura é para ir até 2019, deixou recados – quer o país a produzir mais riqueza –, felicitou o espírito construtivo da Oposição e quase parafraseou um dos lemas do PCP, ao defender que não se deve ter receio de assumir “um nacionalismo patriótico”.
Num hemiciclo com várias ausências, Marcelo alegou que “Portugal não é um país perfeito”, mas não há que ter “medo das palavras” e os portugueses devem ser “fervorosamente orgulhosos da sua nação”. Razões para tal sentimento, assegurou, não faltam: “as vitórias que fomos tendo, nos últimos anos, nas nossas finanças, na nossa economia, na nossa sociedade”. Num discurso marcado por problemas de voz, o chefe de Estado alertou que o nacionalismo a que alude é “patriótico e de vocação universal” e não “egocêntrico, agarrado a um pretenso passado, recriado”.
Se há um ano admitiu que “até às eleições” de outubro não haveria “instabilidade”, Marcelo vê agora o prazo de vida do Governo ir além das autárquicas. Mas explicou ao PS e à Esquerda qual a estratégia a seguir: “Os dois anos e meio que faltam para o termo da legislatura parlamentar terão de ser de maior criação de riqueza e melhor distribuição”.
PSD faz troca e acaba a citar Soares O recado, refira-se, foi para os “apoiantes” do Governo, mas também para PSD e CDS, “que legitimamente aspiram a voltar a governar”. “Têm sido essenciais, uns e outros, neste último ano e meio, ao garantirem a virtuosa com- patibilização entre a indispensável es- tabilidade e o salutar confronto políti- co e parlamentar”, disse Marcelo. Aca- bou aplaudido de pé, à exceção do BE, PCP e PEV, ainda que alguns bloquistas tenham batido palmas. No fim da cerimónia, as reações ao discurso eram genericamente positivas de to- dos os quadrantes partidários.
Em 2016, na mesma cerimónia, Marcelo sugeriu “bom senso” à Oposição e a resposta da social-democrata Paula Teixeira da Cruz foi a de guerra aberta com os socialistas.
Ontem, coube a Teresa Leal Coelho ir ao encontro do consenso pedido. Apesar de ter recorrido a palavras do fundador do PSD (Sá Carneiro) para alfinetar a maioria parlamentar, alertando para os perigos do “socialismo marxista, coletivista e estatizante”, acabou a citar Mário Soares.
Após os discursos – em que a Esquerda e o PS se pautaram por apontar falhas a Bruxelas e o CDS se mostrou contra a eutanásia –, o presidente do Parlamento, que tem sido criticado por PSD e CDS, garantiu que “não há deputados dispensáveis ou partidos excluídos das soluções de Governo”. Ferro Rodrigues defendeu que “vivemos um novo tempo político”.
“Os dois anos e meio que faltam para o termo da legislatura parlamentar terão de ser de maior criação de riqueza e melhor distribuição” Marcelo Rebelo de Sousa