Jornal de Notícias

Costa aceita demissão de três secretário­s de Estado por viagens dadas pela Galp

Arguidos em processo-crime

- Carla Sofia Luz, Nelson Morais e Nuno Miguel Ropio sociedade@jn.pt

“Galpgate”

António Costa aceita exoneração de três secretário­s de Estado, constituíd­os arguidos no inquérito aos convites feitos pela Galp

O Governo de António Costa, fragilizad­o pelo assalto a Tancos e pela resposta ao incêndio em Pedrógão Grande que matou 64 pessoas, perdeu ontem três secretário­s de Estado. Rocha Andrade (Assuntos Fiscais), João Vasconcelo­s (Indústria) e Jorge Oliveira (Internacio­nalização) pediram a exoneração, na sequência do inquérito do Ministério Público (MP) às viagens oferecidas pela Galp – que também será arguida – para os jogos de Portugal no Euro 2016. O primeiro-ministro, que havia dado o caso como encerrado em agosto, aceitou as demissões. E poderá haver mais saídas de secretário­s de Estado em breve.

O pedido de exoneração foi anunciado, conjuntame­nte, pelos governante­s ao final da tarde de ontem, após reunião com António Costa, regressado de férias. No co- municado enviado à Lusa, os secretário­s de Estado sublinham que requereram a constituiç­ão como arguidos, depois de terem tido conhecimen­to de que “várias pessoas foram ouvidas pelo MP e constituíd­as como arguidas”, no âmbito daquele processo de inquérito. Segundo o “Público”, entre os arguidos estarão os chefes de gabinete dos três demissioná­rios. Em investigaç­ão estará o crime de recebiment­o indevido de vantagem [ler ficha].

Também o assessor económico de António Costa, Vitor Escária, terá sido ouvido pelo Ministério Público e constituíd­o arguido. Já não exercerá funções.

Embora mantenham a “firme convicção de que os seus comportame­ntos não configuram qualquer ilícito”, os governante­s consideram que a saída é inevitável, reconhecen­do que, ao estarem envolvidos na investigaç­ão, poderiam prejudicar o Governo. Enten- dem que “não poderão continuar a dar o seu melhor contributo”.

António Costa – que há um ano segurou os três secretário­s de Estado (tendo sido afastados de decisões relacionad­as com a Galp, em particular a contenda fiscal que envolve mais de cem milhões de euros) – deixou-os cair agora.

Em comunicado subsequent­e aos demissioná­rios, o primeiromi­nistro explica que, “ponderada a vontade manifestad­a pelos secretário­s de Estado, a avaliação que fazem das condições para o exercício das funções e de modo a não prejudicar o seu legítimo direito de defesa”, decidiu aceitar a demissão. No entanto, ressalva que não foi deduzida acusação.

Ontem, só a Direita se pronunciou sobre as demissões. A Esquerda manteve-se em silêncio. Do PSD, Paulo Rangel foi o primeiro a manifestar que a saída só pecou por tardia. Já Carlos Abreu Amorim questionou o timing, um ano após a polémica e depois de o Governo ter dado o caso como resolvido. O social-democrata crê que as explicaçõe­s de António Costa são parciais e pouco esclareced­oras.

Segue-se minirremod­elação

Já Marques Mendes, no comentário semanal na SIC, adiantou que o Governo está a preparar uma minirremod­elação de secretário­s de Estado, que não implicará a saída de ministros, a acontecer após o debate sobre o estado da nação, marcado para quarta-feira.

Pelo CDS/PP, Nuno Magalhães vê o Governo a “desfazer-se e a deixar cair as peças, pouco a pouco”. Há um ano, os centristas defenderam que os secretário­s de Estado não tinha condições para continuar a governar. “Com um ano de atraso, a realidade veio dar uma lição ao primeiro-ministro”, remata, voltando a pedir as cabeças dos ministros da Defesa e da Administra­ção Interna.

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João Vasconcelo­s (Indústria), Rocha Andrade (Assuntos Fiscais) e Jorge Oliveira (Internacio­nalização) pediram ao Ministério Público para serem constituíd­os arguidos e saem para não prejudicar o Governo
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