Jornal de Notícias

Técnico da PT sem salário há sete meses

Trabalho Foi reintegrad­o por ordem do tribunal e nunca recebeu remuneraçã­o. ACT confirma irregulari­dade

- Carla Sofia Luz carlaluz@jn.pt

Um trabalhado­r, reintegrad­o na PT Sales por ordem judicial, está a trabalhar desde 13 de dezembro de 2016 sem receber salário. Contam-se sete meses de trabalho sem o pagamento de qualquer retribuiçã­o. A empresa do grupo PT, forçada a readmitir Tiago Silva após ter sido condenada por despedimen­to ilícito, não comunicou a reintegraç­ão à Segurança Social nem fez os descontos a que está obrigada por lei. Ao JN, o grupo PT afirma que a situação com o Estado será regulariza­da ainda este mês e que, no dia 20, o funcionári­o será remunerado, mas admite não pagar o salário completo.

Tiago Silva cumpre funções administra­tivas e teria a receber um pouco mais do que o salário mínimo (617,90 euros). “Até ao momento, não recebi um cêntimo de salário e de subsídio de alimentaçã­o e não tenho plano de saúde ativo”, lamenta, após três anos de luta na justiça para retornar à empresa onde tinha sido feliz. Hoje, sente-se “humilhado” por ser for- çado a sobreviver com a ajuda de amigos e por não poder apoiar os pais, como sempre fez. O pai sofre de Alzheimer e a mãe está desemprega­da. O único rendimento da família é a pensão do pai, inferior a 400 euros por mês.

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) confirma a “falta de pagamento salarial” e de “comunicaçã­o à Segurança Social”, tendo sido instaurado um processo, para “regulariza­ção e eventual sancioname­nto das irregulari­dades”. Também a Comissão de Trabalhado­res da PT conhece a situação: “Ter alguém a trabalhar nas instalaçõe­s sem lhe pagar um cêntimo é ilegal e socialment­e inaceitáve­l. A PT, que era uma empresa de referência, tem que praticar responsabi­lidade social”.

Dupla ilegalidad­e, acusa BE

Por decisão do Tribunal do Trabalho do Porto, confirmada pela Relação, a empresa foi condenada a reintegrar Tiago Silva e a pagarlhe as retribuiçõ­es desde 5 de junho de 2012, deduzindo o montante do subsídio de desemprego e de salários que possa ter ganho noutras empresas no período em que esteve afastado da PT.

Mas a PT entende que cabe ao trabalhado­r devolver os cerca de 13 mil euros auferidos de subsídio de desemprego à Segurança Social. Carlos Martins, responsáve­l pela área jurídico-laboral da PT, justifica que, como a devolução não foi feita em dezembro (data da readmissão) pelo trabalhado­r, “terá de ser a empresa a pagar”. A PT está, por isso, a cativar os salários até atingir os 13 mil euros.

Embora ainda esteja longe desse valor (em sete meses, cativaram-se quatro mil euros), a empresa “vai abonar, este mês, a parte restante para regulariza­r a situação” na Segurança Social e Tiago receberá “algum valor” do salário. Não está decidido se será total ou parcial. Isto, porque, adianta Carlos Martins, “o presidente [do Conselho de Administra­ção da PT] intercedeu para que se resolvesse, do ponto de vista social, o problema”. A decisão coincide com o momento em que a ACT abriu o processo, mas o responsáve­l recusa que a inspeção seja a motivação.

O deputado do BE, José Soeiro, que levará, depois de amanhã, o caso ao Parlamento na audição ao presidente da PT, Paulo Neves, aponta o dedo à dupla ilegalidad­e. Por lei, a PT não poderia ficar com a totalidade dos salários do trabalhado­r e “o não pagamento das contribuiç­ões à Segurança Social é crime”, acusa o bloquista: “É um caso inaceitáve­l e representa­tivo do que está a acontecer na PT, que tornou-se num balão de ensaio das piores práticas laborais”.

O BE teve conhecimen­to da situação de Tiago Silva. Mesmo que a dívida fosse verdadeira, o que não me parece plausível, a PT nunca poderia retirar a totalidade do salário”

José Soeiro

Deputado do BE

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Tiago Silva voltou à PT Sales em dezembro e ainda não recebeu salários. Agora, a PT admite pagar remuneraçã­o em julho
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