Estados de fragilidade
1Mesmo que retiremos da equação a gestão política, há no furto de armamento de Tancos muitas coisas para nos causar calafrios se ainda consideramos as Forças Armadas um elemento essencial da nossa existência enquanto Estado. Diria mais, era importante que as trapalhadas políticas do momento dessem lugar a uma avaliação serena mas profunda das condições de operacionalidade das nossas tropas, porque a imagem que temos hoje é terrível. E nem sequer é do arame enferrujado e das torres de vigilância a cair que falo, mas do elemento essencial: os homens.
Sempre soubemos que não éramos nenhuma potência militar e que as condições materiais da nossas tropas refletiriam a fragilidade económica do país. Mas acreditamos que quando não há dinheiro para videovigilância, haveria uma sentinela para vigiar. Hoje, sabemos que não é assim e temos fundadas razões para acreditar que as Forças Armadas baixaram a guarda, acomodando-se à ideia de um país pacífico em que nada acontece. Pior: a inexistência de rondas durante 20 horas, a falta de assunção de responsabilidades dos comandantes diretos da unidade assaltada, as rebuscadas “exonerações temporárias” e o alijar de culpas do chefe do Estado-Maior do Exército para os seus subordinados revelam um estado de diluição das hierarquias e do espírito de corpo que faz temer o pior sobre o estado de um dos pilares da nossa soberania.
2Esteja eu enganado, mas parece-me que os sinais que hoje damos de que a candidatura do Porto é a melhor colocada para ser apresentada como a escolha nacional para receber a Agência Europeia do Medicamento (EMA) quer dizer que Portugal considera que não tem hipótese de sair vencedor. Não que o Porto não tenha argumentos para acolher a agência, mas haver uma inclinação já esboçada, quando as candidaturas internas foram entregues há 24 horas, parece confirmar aquilo que já se suspeitava: António Costa aproveita a oportunidade perdida de receber a EMA para tentar recuperar internamente do passo em falso que foi considerar instintivamente que o país se limita a Lisboa.
3A justiça, justa ou injustamente, continua a representar o maior embaraço para os políticos. No atual estado de fragilidade do Governo e perante a ameaça de serem constituídos arguidos, a demissão era a única saída possível para os secretários de Estados que um dia viajaram à boleia da Galp. Mas claro que também vale pena perguntar onde andou este processo no último ano.