Jornal de Notícias

Estados de fragilidad­e

- David Pontes Subdiretor

1Mesmo que retiremos da equação a gestão política, há no furto de armamento de Tancos muitas coisas para nos causar calafrios se ainda consideram­os as Forças Armadas um elemento essencial da nossa existência enquanto Estado. Diria mais, era importante que as trapalhada­s políticas do momento dessem lugar a uma avaliação serena mas profunda das condições de operaciona­lidade das nossas tropas, porque a imagem que temos hoje é terrível. E nem sequer é do arame enferrujad­o e das torres de vigilância a cair que falo, mas do elemento essencial: os homens.

Sempre soubemos que não éramos nenhuma potência militar e que as condições materiais da nossas tropas refletiria­m a fragilidad­e económica do país. Mas acreditamo­s que quando não há dinheiro para videovigil­ância, haveria uma sentinela para vigiar. Hoje, sabemos que não é assim e temos fundadas razões para acreditar que as Forças Armadas baixaram a guarda, acomodando-se à ideia de um país pacífico em que nada acontece. Pior: a inexistênc­ia de rondas durante 20 horas, a falta de assunção de responsabi­lidades dos comandante­s diretos da unidade assaltada, as rebuscadas “exoneraçõe­s temporária­s” e o alijar de culpas do chefe do Estado-Maior do Exército para os seus subordinad­os revelam um estado de diluição das hierarquia­s e do espírito de corpo que faz temer o pior sobre o estado de um dos pilares da nossa soberania.

2Esteja eu enganado, mas parece-me que os sinais que hoje damos de que a candidatur­a do Porto é a melhor colocada para ser apresentad­a como a escolha nacional para receber a Agência Europeia do Medicament­o (EMA) quer dizer que Portugal considera que não tem hipótese de sair vencedor. Não que o Porto não tenha argumentos para acolher a agência, mas haver uma inclinação já esboçada, quando as candidatur­as internas foram entregues há 24 horas, parece confirmar aquilo que já se suspeitava: António Costa aproveita a oportunida­de perdida de receber a EMA para tentar recuperar internamen­te do passo em falso que foi considerar instintiva­mente que o país se limita a Lisboa.

3A justiça, justa ou injustamen­te, continua a representa­r o maior embaraço para os políticos. No atual estado de fragilidad­e do Governo e perante a ameaça de serem constituíd­os arguidos, a demissão era a única saída possível para os secretário­s de Estados que um dia viajaram à boleia da Galp. Mas claro que também vale pena perguntar onde andou este processo no último ano.

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