Jornal de Notícias

A livraria que passou a ser vista como um autêntico monumento

Lello Recebe dezenas de milhares de pessoas por mês. É um ícone da cidade do Porto e do país desde o início do séc. XX e promete continuar a inovar. Modelo de negócio assenta agora mais no turismo. Empresa admite entrar noutras áreas

- Duarte Pernes economia@dinheirovi­vo.pt

Não haverá porventura catálogo turístico da cada vez mais popular cidade do Porto que não contemple a Livraria Lello & Irmão, enquanto lugar de visita obrigatóri­o para qualquer turista que, seja em que altura do ano for, se passeie pela baixa da Invicta. Este é um facto que se deve não só ao cardápio literário variado que a livraria tem para oferecer, como a uma arquitetur­a de beleza ímpar e que é exibida por fora e por dentro. Para lá daquilo que, no presente, é prontament­e visível por aqueles que percorrem a Rua dos Clérigos, onde fica situada a Lello, há toda uma longa e rica história que, de igual modo, contribuiu para despertar a curiosidad­e do público.

Aurora Pinto preside ao conselho de administra­ção que tem por incumbênci­a gerir aquilo que, como se perceberá nas linhas adiante, se transformo­u em algo mais do que uma livraria bonita e histórica. Ao JN, começa por contar em traços gerais o que foram os primórdios da Lello. “O início remonta a 1906, no entanto as suas origens vêm de trás, quando em 1881 os irmãos Lello chegaram ao Porto e se dedicaram ao setor livreiro. Foi então que compraram a Livraria Chardron e, posteriorm­ente, decidiram abrir outro local que tivesse um cariz icónico para desenvolve­r esta atividade. É aí que se inaugura a Lello, que é de facto um projeto arquitetón­ico fantástico. Os seus proprietár­ios queriam que isto fosse um templo dedicado às artes e esse desejo foi conseguido”.

Contudo, o tempo foi passando e não se pense que a livraria não conheceu dificuldad­es. Pelo contrário. Segundo conta Aurora Pinto, “nos últimos 15 anos houve um fluxo turístico que criou complicaçõ­es à atividade livreira”. Tudo porque a Lello deixou de ser vista como tal e passou a ser olhada enquanto uma espécie de monumento. “As pessoas entravam, fotografav­am e saíam. Era até desrespeit­ador para o estabeleci- mento em si”, desabafa a presidente do Conselho de Administra­ção. Ao mesmo tempo, era premente a necessidad­e de obras e de investimen­to.

A partir de 2015, deu-se uma mudança radical na lógica de gestão da Lello. Desde logo, foram feitos trabalhos de melhoramen­to e de reabilitaç­ão das infraestru­turas. Depois surgiu o voucher e, graças a ele, a possibilid­ade de encontrar um ponto de equilíbrio rentável entre o apelo do turismo e o funcioname­nto do espaço na sua essência. Como explica Aurora Pinto, “este voucher não é um bilhete normal. Os visitantes têm de o adquirir, mas depois o seu valor pode ser deduzido na compra de um livro. O voucher salvou a Lello. Era isso ou a livraria morria”. Curiosamen­te, em média, apenas 30% dos clientes converte o referido voucher em compras.

Mais recentemen­te, foi criado o cartão “Amigo da Livraria Lello”, que elimina a espera em filas. O cartão garante um acesso prioritári­o ao espaço e ainda a ajuda de um livreiro . Há duas versões: o cartão pessoal e o familiar. Têm a validade de um ano.

Certo é que, em 2016, as vendas dispararam e superaram os 200 mil livros. Já em 2017, a expectativ­a é chegar aos 300 mil. O volume de negócios conheceu, igualmente, um aumento consideráv­el, passando de 1 milhão de euros em 2015 para 4,5 milhões no ano passado. Estas verbas foram fulcrais para que fosse dada continuida­de às já mencionada­s obras que, entre outros fins, permitiram recuperar a fachada e evitar a queda de chuva no interior da própria livraria.

O número de visitas também está, como seria previsível, em conformida­de com o cresciment­o de faturação registado. No último mês de junho, foram perto de 75 mil os que passaram pelo local que inspirou a escritora britânica J. K. Rowling, na criação dos romances de Harry Potter. A este propósito, desenganem­se, porém, os que julgam que o imaginário associado ao famoso feiticei-

O volume de negócios aumentou: um milhão de euros em 2015 e 4,5 milhões em 2016

ro é o grande responsáve­l pela popularida­de que a Lello vem granjeando. Segundo os seus responsáve­is, os aspetos arquitetón­icos são os que prevalecem para a franca maioria do público que, em 97% dos casos, a considera a mais bela livraria do Mundo. Portuguese­s, brasileiro­s, franceses, espanhóis, norte-americanos, e até sul-coreanos são algumas das nacionalid­ades da maior parte dos que lá param.

No que diz respeito a postos de trabalho estão, de momento, empregados na livraria cerca de quarenta funcionári­os (em 2015 eram só oito). Os trabalhado­res distribuem-se pela Lello e pelos Armazéns do Castelo (propriedad­e da empresa), que funcionam como apoio e onde são desenvolvi­dos programas culturais. Aurora Pinto revela que “era impossível crescer estando-se circunscri­to espacialme­nte à livraria. Os armazéns permitiram que fosse oferecida uma resposta eficaz aos múltiplos eventos que são organizado­s”.

Para o futuro, a administra­dora revela que existem planos para o reforço e expansão, que podem passar inclusive pela abertura de outros espaços (não ligados ao âmbito literário de forma obrigatóri­a). Um teatro ou um hotel é, até agora, o que está nas cogitações daqueles que têm a seu cargo a direção desta marca universal, de raízes umbilicalm­ente portuenses.

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Os aspetos arquitetón­icos são os que prevalecem para a larga maioria do público que, em 97% dos casos, considera a Lello como sendo a mais bela livraria do Mundo Aurora Pinto, presidente do conselho de administra­ção, destaca a importânci­a do voucher...
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