Jornal de Notícias

Presos políticos “não são reféns”

Venezuela Procurador­a-geral responde a Maduro após passagem de opositor para prisão domiciliár­ia

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Casa Branca saudou a saída de López da cadeia, mas criticou prisão domiciliár­ia

procurador­a-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, disse que não se pode usar os políticos privados de liberdade como “objeto de negociação” ou como “reféns”, declaração feita horas após ser tomada a decisão da passagem do opositor ao regime Leopoldo López para prisão domiciliár­ia. “Não se pode usar as pessoas privadas de liberdade como se fossem uns reféns que podem ser objeto de negociação, conforme fazem alguns grupos criminosos com as pessoas que sequestram. Não se deve instrument­alizar um caso tão delicado e sensível para o país para tentar legitimar ou melhorar a sua imagem”.

As declaraçõe­s de Díaz surgem após o presidente, Nicolás Maduro, dizer que a procurador­a-geral “pediu 30 anos de prisão” para López no julgamento e reiterado que o político foi “processado, punido e preso por responsabi­lidade da Procurador­ia-Geral da República”.

Díaz – que, nos últimos meses, tem vindo a distanciar-se do Governo de Maduro – afirmou que, “paradoxalm­ente, agora, pretendem usar este caso como parte da campanha contra o Ministério Público, que é uma instituiçã­o independen­te, onde cada procurador conduz os casos de forma independen­te de acordo com os seus critérios, que devem obedecer a factos concretos que devem ser enquadrado­s na estrita legalidade”. Nicolás Maduro quer López com ele Maduro disse apoiar a transferên­cia de López e revelou que quer que o opositor se junte a ele num apelo à paz. Referindo-se ao dirigente pelas iniciais, o chefe de Estado afirmou, na televisão: “Vocês sabem as profundas diferenças que tenho com LL”. Mas acrescento­u esperar que López, que passou mais de três anos na cadeia, “entenda a medida e envie uma mensagem de apoio à paz, porque é o que o país deseja”.

López foi condenado a quase 14 anos de prisão. Anteontem, foi transferid­o para prisão domiciliár­ia, após mais de três anos na prisão militar de Ramo Verde.

Com 46 anos, o dirigente do partido Vontade Popular foi detido em fevereiro de 2014, acusado de incitament­o à violência durante uma ação antigovern­amental dias antes, em que morreram três pessoas e que deu lugar a uma onda de manifestaç­ões que causou 43 mortos.

O Supremo Tribunal informou que a transferên­cia de López para prisão domiciliár­ia se deveu a “problemas de saúde”, mas familiares do opositor garantiram que ele está bem e feliz por estar em casa.

Entretanto, López apelou aos venezuelan­os para que prossigam com a “resistênci­a” nas ruas. “Reitero-vos o meu compromiss­o de lutar até conquistar a liberdade. Este avanço permite uma maior convicção, e, nesse sentido, reiteramos, passados 100 dias de resistênci­a, o regresso à rua para lutar”, afirmou, em carta lida pelo dirigente do seu partido Freddy Guevara, perante apoiantes concentrad­os no exterior da casa do opositor, em Caracas, de onde saiu por breves instantes para saudar os seus seguidores.

Surgiu empunhando uma bandeira da Venezuela, que beijou e agitou, entre aplausos dos simpatizan­tes, e gritava: “Força e fé”. Já a dirigente Iris Varela criticou a medida judicial. “Acordámos com uma notícia que nos enche de indignação. É uma decisão tomada por quem a deve tomar porque aqui há um Estado de direito e aqui funcionam as instituiçõ­es”, disse a ex-deputada e antiga ministra.

Por seu lado, a administra­ção norte-americana saudou a saída de López da cadeia, mas considerou inaceitáve­l a colocação sob prisão domiciliár­ia e a “continuada recusa de direitos humanos básicos”. A Casa Branca defende que tem de ser feito mais por López e por outros prisioneir­os políticos que se opõem a Maduro. O comunicado recorda, ainda, o encontro entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e a mulher de López, na Sala Oval, em fevereiro.

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Leopoldo López empunha uma bandeira da Venezuela junto a casa, após ter saído da prisão militar onde estava há três anos

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