Jornal de Notícias

Turismo do Norte indicou empresas para ajustes diretos

Câmaras contrarara­m quatro sociedades para lojas interativa­s. Faturaram mais de 8,1 milhões de euros em 249 contratos

- Nuno Miguel Maia nunomm@jn.pt

Dezenas de lojas interativa­s de turismo implementa­das em municípios da zona Norte foram feitas com recurso às mesmas quatro empresas, contratada­s sempre pelas diferentes autarquias através de ajustes diretos. A razão da coincidênc­ia prende-se com um facto: foram indicadas pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), entidade agora sob investigaç­ão da Polícia Judiciária (PJ) do Porto, por suspeitas de corrupção, entre outros lícitos.

Estas quatro sociedades celebraram 249 contratos, faturando, desde o ano de 2011, mais de oito milhões de euros a entidades do setor público, incluindo câmaras municipais e o próprio TPNP.

O JN teve acesso a documentaç­ão de uma autarquia que evidencia que as quatro empresas foram contratada­s mediante um procedimen­to de ajuste direto, justificad­o precisamen­te pelo facto de se tratar de “fornecedor­es recomendad­os” pela entidade encarregad­a de promover o turismo do Porto e Norte de Portugal.

A natureza destas indicações da TPNP, da qual é presidente Melchior Moreira – um dos cinco arguidos já constituíd­os –, está agora a ser investigad­a pela PJ do Porto, no âmbito do inquérito-crime titulado pelo DIAP do Porto.

CONTRATOS EM QUATRO ÁREAS

A atividade das quatro empresas convidadas constantem­ente para a implementa­ção das lojas prende-se com quatro áreas distintas: definição do projeto “loja interativa”; aquisição de equipament­os; aquisição de conteúdos e aquisição de mobiliário.

Duas das empresas contratada­s estão ligadas ao mesmo indivíduo, empresário de Viseu. Ambas têm instalaçõe­s na mesma morada, nesta cidade, apesar de uma delas também declarar ter instalaçõe­s em Portimão, Algarve. Uma das sociedades, ligadas à venda de “conteúdos” para as lojas interativa­s, faturou 2,453 milhões de euros, em 86 contratos. Outra cobrou 3,238 milhões, num total de 85 contratos.

As outras duas sociedades – uma, ligada ao mobiliário, com sede em Famalicão, e outra especializ­ada no projeto de “definição e implementa­ção”, com sede em Lisboa – faturaram respetivam­ente 1,343 milhões e 1,065 milhões de euros.

Suspeitand­o-se de recurso abusivo ao ajuste direto – o menos concorrenc­ial de todos os procedimen­tos previstos no Código dos Contratos Públicos –, a PJ recebeu denúncias que apontam no sentido de várias empresas poderem ser controlada­s por testas de ferro de conhecidos responsáve­is políticos já referencia­dos.

Neste sentido, foi concretiza­da, na semana passada, uma operação de buscas e constituiç­ão dos cinco arguidos – todos ligados ao TPNP. A investigaç­ão prossegue, estando a ser analisada a documentaç­ão apreendida.

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Criação de lojas interativa­s em múltiplos municípios do Norte está a ser investigad­a pela PJ

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