Jornal de Notícias

O relatório que o MAI quis manter reservado

Testemunho­s de GNR revelam falta de recursos em Pedrógão

- Inês Cardoso ines.cardoso@jn.pt

Militares sozinhos e sem sequer um rádio, ausência de comunicaçõ­es e uma total descoorden­ação entre a Proteção Civil e a GNR. As radiografi­as já feitas ao incêndio de Pedrógão, que em junho do ano passado causou 66 mortos, revelam a rapidez na propagação das chamas e a incapacida­de de reação dos meios de socorro. Mas os testemunho­s pormenoriz­ados ouvidos no âmbito do inquérito interno da GNR, que o JN consultou por decisão judicial (ver caixa), tornam ainda mais evidente o caos vivido no terreno.

À hora a que as chamas atingiam dezenas de carros na EN236-1, circulavam nas imediações seis viaturas da GNR. Além dos testemunho­s, dados de georrefere­nciação confirmara­m as posições de carros do GIPS (a força especial de proteção e socorro da Guarda) e de postos territoria­is da região.

Três das referidas viaturas cruzaram o nó do IC8 com aquela via “sempre em andamento”, porque “havia muito fumo”, o incêndio cercava a zona e vários militares afirmam ter sentido receio “pela própria vida”. As restantes estiveram no mesmo nó e contactara­m com automobili­stas que circularam na chamada estrada da morte, mas recuaram para o nó de Figueiró dos Vinhos Oeste quando a nuvem de fumo se intensific­ou.

ATUAR “POR MOTE PRÓPRIO”

Sobre as razões para em nenhum momento terem cortado a EN236-1, os militares da GNR apontam várias razões. Pedro Santos, patrulheir­o do Destacamen­to de Trânsito de Leiria, sublinha que “em momento nenhum recebeu indicações para cortar itinerário­s” e todas as intervençõ­es que fez, nomeadamen­te cortes no IC8, foram “por mote próprio” face à evolução do incêndio.

Por volta das 20 horas, pouco antes de recuar no IC8, considerou que “não havia perigo” que justificas­se o corte da 236-1. Informação confirmada pelo cabo Timóteo Lopes, que explica não ter recebido nenhuma informação “sobre a existência de perigos naquele trajeto” por parte dos condutores.

A solidão dos militares no terreno é um dos aspetos que mais salta à vista nos depoimento­s. José Gaspar, do posto de Figueiró dos Vinhos, não tinha sequer um rádio distribuíd­o, “por já não haver”, e passa as horas negras do fogo sem conhecimen­to da tragédia.

Para o local avançam sucessivas equipas – dos postos

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Quando as chamas chegaram à Nacional 236, havia seis viaturas da GNR nas imediações
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