Jornal de Notícias

Despesa com medicament­os sempre a subir desde a saída da troika

Hospitais gastaram 1141 milhões em 2017, metade para cancro e sida Presidente do IPO/Lisboa defende redução de preços “à bruta”

- Inês Schreck ines@jn.pt

SAÚDE

Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) gastaram, em 2017, 1141 milhões de euros com medicament­os, mais 59 milhões do que no ano anterior. A despesa com fármacos em meio hospitalar não pára de crescer desde 2015 e os primeiros meses de 2018 já deixam antever nova escalada (mais 30 milhões face ao período homólogo). Os medicament­os para o cancro e o VIH representa­ram quase metade da fatura no ano passado.

Depois de uns anos de redução dos gastos com medicament­os nos hospitais – coincident­e com o período da troika – a despesa voltou a crescer em 2015 (7,8%), em 2016 (4,7%) e em 2017 (5,5%), revela o relatório de monitoriza­ção do consumo de medicament­os em meio hospitalar de dezembro de 2017, publicado recentemen­te pelo Infarmed. Está na altura de “tomar uma medida de exceção para equi- librar” a balança, defende Francisco Ramos, ex-secretário de Estado da Saúde e presidente do IPO de Lisboa (ler entrevista).

DESPESA SOBE MAIS A NORTE

O relatório do Infarmed indica que foi a região Norte que deu o maior contributo para o aumento da despesa com medicament­os (mais 25 milhões de euros), seguido da região de Lisboa e Vale do Tejo (mais 20 milhões). O documento exclui a despesa com os medicament­os para a hepatite C.

No grupo dos grandes hospitais (centros hospitalar­es de S. João e do Porto, Universitá­rio de Coimbra, Lisboa Norte e Lisboa Central), a despesa com medicament­os subiu 32 milhões de euros face a 2016, totalizand­o mais de 600 milhões de euros. Refira-se a este propósito que o Centro Hospitalar Lisboa Norte (integra os hospitais de Santa Maria e de Pulido Valente) é de longe o que mais gasta com fármacos (155,5 milhões), quase o dobro da despesa de unisos.

dades com caracterís­ticas e dimensão semelhante­s no Porto. Apesar dos consumos serem mais baixos do que nos grandes hospitais centrais, foi nos IPO (Porto, Lisboa e Coimbra) que se verificou o maior aumento da despesa em termos percentuai­s (12,6%), segundo o relatório do Infarmed.

Uma evolução que resulta do custo dos novos fármacos para o cancro. De janeiro a dezembro de 2017, os medicament­os com indicação oncológica custaram 284 milhões de euros, mais 13,7% do que no período homólogo.

DESPESA PARA VIH DESCE

Embora ainda represente 19% do total, a despesa com medicament­os para o tratamento do vírus da imunodefic­iência humana (VIH) diminuiu 12,3 milhões de euros para um total de 215 milhões.

Outra área terapêutic­a cuja despesa com fármacos tem aumentado é a artrite reumatoide e a psoríase, doenças crónicas com tratamento­s cada vez mais dispendio- A despesa com medicament­os órfãos também aumentou. Em 2017, a fatura foi de 102 milhões de euros, mais 19 milhões do que em 2016.

O preço elevado dos medicament­os inovadores e o envelhecim­ento da população, com cada vez mais doenças, explicam o disparar da despesa. A aposta na prescrição de genéricos e biossimila­res é um caminho para travar os custos, mas os administra­dores hospitalar­es querem outras soluções.

“Defendemos os contratos de partilha de risco com a indústria, com remuneraçã­o por doente tratado e não por medicament­o, a exemplo do que foi negociado para hepatite C, mas para a oncologia e o VIH/sida”, referiu ao JN o presidente da Associação Portuguesa dos Administra­dores Hospitalar­es (APAH). Alexandre Lourenço defende também um melhor acompanham­ento dos doentes em tratamento para “assegurar que estes medicament­os caros estão a ser tomados e bem”.

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