Hotéis agitam mercado da arte
Unidades investem em obras de autores portugueses para decorar espaços comuns e quartos
TENDÊNCIA
Os hotéis de luxo e os alojamentos locais de charme estão a agitar o mercado de arte em Portugal. O incremento turístico aumentou o patamar de exigência e as unidades hoteleiras são atualmente quem mais adquire obras de arte – pintura, escultura e instalações – e recruta artistas nacionais para diferenciar os espaços.
Há hotéis que apostam mesmo na abertura de galerias no interior, sendo alguns já detentores de importantes acervos de arte portuguesa. Os artistas pláticos confirmam a nova moda ao JN. As galerias, por enquanto, ficam à margem da tendência.
TURISMO SUBIU A EXIGÊNCIA
“Nunca tive tanto trabalho como agora”, reconhece Jorge Curval, um dos artistas plásticos ouvidos pelo JN. Com atelier em Vila do Conde e mais de 25 anos de carreira, Curval tem em mãos várias encomendas para a decoração de hotéis que estão a abrir no Porto.
“Os estrangeiros que compram casa em Portugal não investem em arte. Os que o fazem representam um nicho pouco expressivo em termos de dinamismo de mercado.” O que está a acontecer, ressalva, é um fenómeno diferente mas interessante: “o fluxo de turismo, sobretudo daquele turismo que procura qualidade e gosta de ficar instalado em bons hotéis, tem obrigado à remodelação desses espaços ou mesmo à sua requalificação. Os estrangeiros endinheirados querem ficar bem instalados. Essa exigência levou os hotéis de charme a reposicinarem-se, investindo nos artistas nacionais e, portanto, dinamizando o mercado da arte”.
Também o escultor Paulo Neves admite que, nos últimos tempos, o seu trabalho tem sido mais requisitado. “Nota-se a vontade de investir em obras de artistas portugueses para a decoração de hotéis. Tenho recebido várias encomendas. Trabalho com o grupo Sana e tenho trabalhos meus no Hotel Carris, no Porto, e no Hotel Monverde, em Amarante.”
QUARTOS DEDICADOS À ARTE
Outro exemplo apontado é o novo “Torel Avant Gard”, na Rua da Restauração, no Porto, cujos quartos são temáticos e dedicados a figuras da arte. De resto, essa é a a carta de apresentação do hotel boutique de cinco estrelas: “viver arte, tocar arte, e sentir o coração e a paixão do artista.”
“Trabalhamos com quatro artistas do Porto para concretizar a nossa visão de um hotel verdadeiramente português, centrado na arte”, explica ao JN Ingrid Koeck, responsável pela unidade de luxo. Nesse sentido, cada peça de arte é parte inerente do design do hotel. Exemplos: Paulo Neves criou a porta de entrada e a receção; Jorge Curval concebeu peças de arte inspiradas nos artistas que dão nome aos 47 quartos, assim como as estátuas do jardim; Daniel Eime grafitou a parede da receção que retrata os típicos barcos rabelos; Frederico Draw projetou a parede de entrada do restaurante “Digby”, numa obra que celebra o vinho.
“O investimento em arte no Torel representou 20% do investimento total realizado na decoração do hotel”, acrescenta a mesma responsável. “Se algum cliente estiver interessado na arte que está exposta nos espaços do hotel, teremos todo o gosto em fazer a ligação com o respetivo artista”, como assegura Ingrid Koeck.
Jorge Curval
Pintor “Nunca tive tanto trabalho como agora. Os hotéis de charme estão a dinamizar o mercado da arte.” Paulo Neves
Escultor “Nota-se uma certa vontade de investir em obras de artistas portugueses para a decoração de hotéis.” Raul Ribeiro Ferreira
Presidente ADHP “Cada vez mais, o setor hoteleiro está a investir em arte para valorizar a sua oferta.”