Jornal de Notícias

Bernardo “Calabaça”

- PORTEL CORREIA TEIXEIRA

Quem segue o cante alentejano, poucas dúvidas tem sobre o “dono” da melhor voz: é o “Calabaça”, alcunha que ganhou do pai. Aos 69 anos, Bernardo Charrua, antigo cantoneiro da Junta Autónoma de Estradas (JAE), mantém intactas as faculdades vocais que o tornaram celebre no Cantares Regionais de Portel. Há 40 anos, o grupo cometeu a proeza de estar sete semanas no top de vendas nacional de discos, algo inédito na música popular, com os temas “Eu ouvi um passarinho” e “Senhora cegonha”.

Bernardo começou a cantar aos sete anos, na companhia de dois amigos, o “Aladinha” e o “Canholas”, e aos 17 anos já fazia parte do Grupo Coral da Casa do Povo de Portel. Um dos cantadores convidou-o para um ensaio e o mestre do grupo “ficou de boca aberta”.

Antes da tropa, em 1970, Bernardo era assalariad­o da JAE e, em 1975, passou para o quadro como cantoneiro, profissão que teve durante 23 anos. “Tinha um cantão de sete quilómetro­s para tratar, junto à Quinta dos Pretos, na fronteira dos concelhos de Portel e Vidigueira, para onde ia sozinho de mota”, recorda. Foi um palco, “a forma de combater a solidão era o cante e aí ganhei a voz que tenho”.

Mais tarde, pela ligação aos bombeiros, onde durante 10 anos foi condutor, surge o atual grupo, Estrelas do Sul, já depois dos Regionais. Pelo meio, ficou a passagem pelos Almocreves, grupo da Amieira.

Nos muitos anos de cante, Bernardo recorda todos os momentos, os bons e os maus. Cantar no CCB (Lisboa) e na Casa da Música (Porto) são inesquecív­eis. Mas a viagem a Toronto, à Casa do Alentejo, não mais vai esquecer. “Nunca tinha andado de avião. Foi a primeira e última viagem”, atira a rir. O medo já inviabiliz­ou atuações na Madeira e nos Açores. Idade: 69 anos Profissão: Reformado da ex-JAE (Junta Autónoma de Estradas)

Residência: Portel

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