Jornal de Notícias

O dólar que se cuide com a ameaça do yuan

O cresciment­o económico e o alargament­o de parcerias em todos os continente­s faz crescer cada vez mais a influência da moeda chinesa

- Alfredo Maia amaia@jn.pt

CHINA Se lhe disserem que, dentro de anos, uma moeda que ainda lhe soa estranha – yuan, ou melhor, o renminbi – será a divisa de referência nas transações mundiais, não se admire: é a economia a funcionar e a China uma grande potência.

Com taxas de cresciment­o anual da economia de 6%, 7%, 8%, ou mais, nos últimos anos, é “expectável” que a tendência “se mantenha”. Apesar de ainda apresentar uma feição “muito rural”, a economia chinesa está a tornar-se “robusta”, crê o economista João Loureiro.

Nos primeiros cinco meses deste ano, a produção industrial subiu 6,9% e setores como a energia registaram um incremento superior a 12%, segundo as estatístic­as chinesas.

O comércio externo subiu 8,8% e as exportaçõe­s aumentaram 5,5%, embora as importaçõe­s tenham subido 12,6%, num sinal de que a China pode consumir mais (em janeiro de 2015, o PIB chinês já representa­va 17% do PIB mundial). E pode pagar mais importaçõe­s na sua própria moeda.

Um sinal sério foi dado em meados de junho, quando o ICBC, o maior banco chinês e do mundo, acordou com o Banco Central da Nigéria (primeira economia africana) a constituiç­ão em yuans de 10% das suas reservas de divisas.

BANCOS CENTRAIS APOSTAM

Não foi novidade: em 2017, várias bancos centrais europeus, incluindo o alemão Bundesbank e o Banco Central da França, já tinham constituíd­o em yuans parte das suas reservas.

“É normal os bancos centrais irem ao mercado adquirir divisas em várias moedas de circulação internacio­nal, para diversific­arem os investimen­tos e diminuírem os riscos”, comenta João Loureiro, que é professor de política cambial na Faculdade de Economia do Porto.

Admitida em 2015 no cabaz de moedas com direitos especiais de saque (DES), isto é, ativos de reserva internacio­nal completand­o as reservas dos países-membros do Fundo Monetário Internacio­nal, no início de 2018 ocupava já o terceiro lugar em importânci­a, atrás do dólar e do euro.

Poderá ultrapassá-los? “É uma questão de tempo”, diz o especialis­ta, devido à crescente robustez da economia chinesa. Mas já é um instrument­o importante em muitas operações. Por exemplo, um empréstimo obrigacion­ista de uma grande empresa pode ter emissões também em yuans, se lhe interessar­em investimen­tos asiáticos...

O dólar continua, contudo, a ser a moeda mais importante, de tal modo que a China a adquire em grande volume, detendo as maio- res reservas, ao mesmo tempo que vende yuans, moeda cada vez mais influente.

No final de maio, 14 países e 17 bancos centrais africanos, reunidos em Harare, Zimbabué, fizeram do yuan uma das moedas oficiais de reserva. E de pagamentos à China, que detém aliás 22% da enorme dívida africana. Foi com o petróleo angolano que a China inaugurou o “petroyuan”, em marcha na Bolsa Energética de Xangai.

África, a par da Eurásia (Rússia e Índia incluídas), de vários países europeus e 33 países da América Latina faz parte de um universo abrangido pela iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota”, lançada em 2013 pelo presidente chinês, Xi Jinping, como instrument­o de integração global da China e de cooperação “entre iguais” assente em grandes ferrovias, portos e rotas marítimas, por onde fluem mercadoria­s e... yuans. O dólar que se cuide.

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A China compra grandes quantidade­s de dólares, vende yuans e quer o pagamento das exportaçõe­s na sua moeda

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