A fuga digna de um filme de Redoine Faïd
Um dos maiores malfeitores franceses escapou ontem pela segunda vez de uma cadeia
FRANÇA Não poderá qualificar-se a fuga de Redoine Faïd da cadeia de Réau, ontem, perto de Paris, como a do século. Não só porque o século ainda vai curto, como pelo facto de esta ser a segunda fuga de um dos ladrões mais famosos de França. Tão famoso que já escreveu um livro e correu programas de televisão a fazer-se de arrependido, numa fase entre penas.
Faïd cumpria desde abril uma pena de 25 anos por um daqueles assaltos dignos de filme que culminou na morte de uma jovem agente de 26 anos, Aurélie Fouquet, em 2010. E uma pena de dez anos, ditada em 2017, por ter fugido em 2013 da cadeia Sequedin, em Lille (norte), onde cumpria uma estadia por qualquer outro assalto memorável dos que alimentam a sua biografia.
Curiosamente, a façanha de ontem reproduz praticamente a de 2013, à exceção da espetacularidade. Faïd, 46, nascido num bairro de Creil, filho de pais de origem argelina, não deixa o brilho dos holofotes em mãos alheias: fugiu de helicóptero. Se correr como da primeira vez, serão meses de caça ao homem. Seis meses. Sem contar com o desaparecimento na natureza durante anos, aproveitando condicionais. A vida dele, na verdade, divide-se entre a infância delinquente, os voos altíssimos no banditismo organizado e a cadeia. passou nela já um terço da vida.
Ontem, Faïd estava com uma visita. A manhã ia a meio, no silêncio do presídio, quando um Alouette pousou no único local de Réau sem proteção antiaérea, uma espécie de pátio de passagem das visitas fora do ângulo de visão das torres de vigia. Mascarados, vestido de negro e com braçadeiras da polícia, os cúmplices de Faïd afastaram os vigilantes – que ali andam desarmados – com gás lacrimogéneo. Seguiram pelo caminho de intervenção até à sala de visitas.
Regressaram com Faïd em “alguns minutos” e sem feridos nem sequestrados, ao contrário do que acontecera em 2013. Isto é, houve um sequestrado: o piloto do Alouette roubado horas antes, abandonado em choque com o aparelho, em Gonesse, a 60 quilómetros da prisão. O comando de malfeitores incendiou o helicóptero, meteu-se num carro preto e abandonou-o mais adiante. Tem, agora, dezenas de agentes de várias forças especializadas atrás dele.
Dizem de Faïd que, além de ter boa pinta, tem uma inteligência acima da média. “Não se vai muito longe na carreira de assaltante se só se tiver uma ervilha no cérebro”. Disse ele.