O drama da mulher de génio volúvel
Ópera de Marcos Portugal regressa ao Teatro Nacional São João pela ESMAE
Sempre que alguma ópera regressa ao Porto é um acontecimento. “La Donna di genio volubile” (A mulher de génio volúvel), apresentada como drama jocoso em dois atos, volta a fazer escala na cidade onde foi representada em 1805 no Real Teatro de São João. Desta vez, pela mão da Ópera Estúdio da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE).
A ópera que conta a história de uma mulher “indecisa, volúvel, incapaz de persistir numa escolha, dona de caprichos que a vão enredando na sua própria volubilidade”, foi escrita por Marcos Portugal (1762-1839), compositor luso-brasileiro de música erudita e um dos raros nomes da música portuguesa que fez uma notável carreira internacional.
Marcos nasceu em Lisboa e morreu no Brasil. Destacou-se na ópera, compondo mais de 40 peças, mas também na música sacra, com mais de uma centena de obras produzidas. O nome do maestro do Teatro de S. Carlos percorreu a Europa como um dos melhores compositores líricos da época.
A peça, inscrita no género buffa, que sobe ao palco do TNSJ, no próximo fim de semana, retrata a indecisão persistente de uma mulher ao longo de quatro penosos anos e diante de quatro homens que tentam seduzi-la. Mas revela também outra espécie de amor. “Um amor ao lado, longe de fidalguias e salamaleques, mas genuíno e pulsante porque livre dessas grilhetas sociais: o amor entre os criados, sombras dos gestos fidalgos e das grandezas da aristocracia cheia de regras e classe. Mas nem esse amor inspira a mulher volúvel. Numa viagem por alguns momentos musicais inspirados, o círculo fecha-se, viciado, quase como se inaugurara.”
“La donna” estreou em 1796, no Teatro de San Moisè, em Veneza, em Itália, e dois anos depois estreou em Lisboa. Ao Porto, no Real Theatro do Príncipe, só chegaria em 1805.
Com direção artística de António Salgado e direção musical de José Eduardo Gomes, esta Donna inquieta e indecisa – retirada do esquecimento em que se encontrava, no acervo do Porto, pela mão de Ana Liberal e David Cranmer do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical – sobe ao palco do TNSJ, numa encenação de António Durães.