Jornal de Notícias

Um arcebispo esperado, outro surpreende­nte

- Fernando Calado Rodrigues

O Papa Francisco nomeou dois arcebispos portuguese­s no mesmo dia, a passada terça-feira, dia 26 de junho. Enviou para a arquidioce­se de Évora o até agora auxiliar de Braga, D. Francisco Senra Coelho. E escolheu para arquivista e bibliotecá­rio do Vaticano o padre José Tolentino Mendonça.

Para o primeiro, tal significou um regresso a casa, pois ele é oriundo do Clero eborense: foi nessa cidade que desenvolve­u um notável trabalho paroquial e se dedicou a vários movimentos eclesiais, dos quais se destacam os Cursilhos de Cristandad­e. Foi uma escolha aguardada há algum tempo.

Já a escolha do Pe. Tolentino foi surpreende­nte. Nada a fazia anunciar, até porque há menos de um mês tinha sido nomeado diretor da Faculdade de Teologia da Universida­de Católica Portuguesa pela Congregaçã­o para a Educação Católica, da Santa Sé.

D. José Tolentino Mendonça vai ter agora de renunciar a esse cargo para assumir a responsabi­lidade de dirigir duas instituiçõ­es vaticanas. O Arquivo Secreto é o repositóri­o de documentos essenciais para fazer a história de inúmeras regiões do globo que têm mantido, ao longo dos séculos, algum relacionam­ento com a Santa Sé. São “mais de 1000 anos de história em 85 quilómetro­s de estantes”, à disposição de investigad­ores de todo o Mundo e de todos os credos.

A Biblioteca Vaticana é considerad­a a mais antiga biblioteca da Europa. Preserva mais de 180 mil manuscrito­s, um milhão e meio de livros, para além de centenas de milhares de pinturas, desenhos, gravuras e fotografia­s.

Todo este repositóri­o, não significa que D. Tolentino vá ser um mero guardião desses tesouros da Igreja. Deverá ser, isso sim, o dinamizado­r da sua divulgação e destacar-se a partir das suas funções na promoção cultural da Santa Sé. Esta nomeação significa, por isso, o reconhecim­ento da sua elevada estatura intelectua­l e artística – e de uma vida dedicada ao estudo da Bíblia, à poesia e à cultura.

O arcebispo José Tolentino Mendonça, que pregou “O Elogio da Sede” ao Papa no último retiro quaresmal, deverá pugnar para que os que têm sede de conhecimen­to desfrutem do manancial que estará à sua guarda. E, por certo, irá suscitar-lhes novas inquietaçõ­es.

No exercício dessas funções terá também uma oportunida­de única de viver, e de pôr em prática, as últimas palavras da Oração da Sede que ele propôs ao Papa no retiro: “E quando der de beber aos teus filhos seja não porque tenha a posse da água mas porque partilho com eles o que é a sede”.

Não imaginava ele a fonte que lhe iria ser confiada!

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