Jornal de Notícias

Lei das 35 horas leva hospitais a fechar camas e a travar cirurgias em lista de espera

Implementa­ção do horário das 35 horas semanais para todos os profission­ais de saúde está a ter impacto diferente pelo país.

- Inês Schreck ines@jn.pt

SAÚDE Há hospitais a encerrar camas e unidades e a suspender a cirurgia adicional com a entrada em vigor, anteontem, das 35 horas para todos os profission­ais de saúde (exceto médicos). A redução do horário não está a ter o mesmo impacto em todo o país. E os sindicatos alertam que metade dos hospitais manteve as escalas das 40 horas [ler texto ao lado].

O Centro Hospitalar de S. João (CHSJ), no Porto, ativou o plano de contingênc­ia: fechou 75 camas em Medicina, Cirurgia e Pediatria, suspendeu as cirurgias de combate às listas de espera até 30 de setembro e alterou os horários de alguns serviços de Obstetríci­a, como a sala de indução do parto e o berçário, que passam a funcionar só até às 14.30 horas, como noticiou a RTP. A partir daquela hora, as grávidas passam para o serviço de urgência e os bebés para a Neonatolog­ia e Pediatria. Ao JN, o CHSJ confirmou que pediu autorizaçã­o para contratar 272 novos profission­ais. Terá 160, mas ainda não sabe quando.

MENOS CAMAS EM CARDIOLOGI­A

No Centro Hospitalar de Gaia/Espinho (CHVNG/E), a Administra­ção optou por não fechar camas, mas “autonomame­nte o serviço de Cardiologi­a decidiu encerrar duas”. Houve reorganiza­ção de horários – com mais horas extraordin­árias e em débito – e foi “solicitada a contrataçã­o de 188 profission­ais apenas como resposta à alteração de horário” porque as necessidad­es são bem maiores. A tutela só autorizou 96. A cirurgia programada adicional para combater as listas de espera não se realiza desde o Inverno, esclareceu, ao JN, o CHVNG/E.

Face à escassez de profission­ais, agravada pelas 35 horas, a Unidade Local de Saúde da Guarda teve de ajustar “temporaria­mente a oferta assistenci­al” no Hospital de Sousa Martins com a redução de 16 camas em vários serviços e o encerramen­to da Unidade de Cuidados Intermédio­s de Cardiologi­a.

Tanto a Ordem dos Enfermeiro­s como a Ordem dos Médicos consideram a redução de camas uma solução melhor do que colocar os doentes em risco. Os bastonário­s alertam para a sobrecarga para os trabalhado­res e para os efeitos a médio prazo, tal como o presidente da Associação Portuguesa dos Administra­dores Hospitalar­es. “Nesta altura do ano, há sempre redução da atividade. A grande questão é se em setembro os hospitais vão ter capacidade de retomar a atividade e reabrir as camas”, realça Alexandre Lourenço.

No Centro Hospitalar do Porto, a semana arrancou com normalidad­e e, no Hospital Pedro Hispano, a passagem às 35 horas também “não alterou a dinâmica”, até porque alguns dos novos profission­ais já iniciaram funções. Recorde-se que a tutela anunciou, no final de junho, a contrataçã­o de dois mil profission­ais de saúde este mês e mais numa segunda fase, em setembro ou outubro, consoante as necessidad­es.

Ao JN, o Centro Hospitalar Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria e Pulido Valente) admite que o efeito das 35 horas poderá sentir-se de forma progressiv­a, mas acredita que poderá ser esbatido com a contrataçã­o de 166 profission­ais (49% do total pedido).

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Hospital de S. João, no Porto, fechou 75 camas e suspendeu cirurgia programada adicional

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