Mais viciados e detidos por jogo ilegal nos cafés
ASAE apanhou 65 pessoas e 450 mil euros em inspeções Histórias dramáticas de quem sofre com a dependência Pedidos de tratamento estão a aumentar
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) deteve, só nos primeiros meses deste ano, 65 pessoas devido à prática de jogo ilegal. E apreendeu um total de 450 mil euros. Os especialistas em dependências garantem que, nos últimos anos, o número de viciados em jogo está a crescer.
Jogos legais e de fácil acesso – como a “raspadinha” que, em 2017 foi o mais lucrativo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, mas também a proliferação de máquinas de jogo ilegais por cafés e bares têm contribuído para uma realidade que, no final de dezembro de 2017, mantinha 69 viciados a receber ajuda na Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência (DICAD), da Administração Regional de Saúde do Norte. Em todo o país, em 2016, havia 135 pessoas em tratamento.
“Nota-se um aumento da procura de tratamento, mas não é tão significativo como poderia ser. Enquanto nas drogas e no álcool os problemas ficam mais visíveis e a família incentiva a procura de ajuda, no caso do jogo isso não acontece com tanta frequência”, refere Adelino Vale Ferreira, diretor da DICAD.
O mesmo responsável acrescenta que, “na sociedade atual, a questão da dependência do jogo ainda é vista como um problema menor” e que os “dependentes só percebem a verdadeira dimensão do problema quando a sua situação financeira rebenta ou têm problemas com a Justiça”.
Pedro Hubert, diretor do Instituto de Apoio ao Jogador, confirma que “tem aumentado o número de dependentes em jogo”, assim como o número daqueles que procuram ajuda clínica para controlar o vício. “Essa é a tendência dos últimos anos. E, provavelmente, o jogo ilegal contribuiu para o maior número de jogadores dependentes”, sustenta quem trata “umas boas dezenas” de utentes “todos os anos”. “É raro ter dependentes de jogos ilegais. Mas esse tipo de aposta é muito mais perigoso do que outro, porque aí não há qualquer controlo. As máquinas de jogo ilegais podem até ser programadas para serem mais viciantes”, explica.
MULHERES DENUNCIARAM
Os problemas familiares criados com o vício do jogo levaram, tal como o JN revelou, mais de uma dezenas de mulheres de Paredes e de Penafiel ao desespero e a denunciarem cafés da região que tinham máquinas de jogos ilegais. À GNR, queixaram-se de que os companheiros gastavam, em horas, o ordenado acabado de receber. Os militares apreenderam, apenas no primeiro trimestre deste ano, mais de 20 equipamentos. Alguns disfarçados em móveis, parecendo máquinas de jogo tradicionais, mas outros eram simples computadores portáteis ou tablets com programas que davam acesso a jogos só permitidos em casinos. Noutros podiam ainda efetuar-se apostas desportivas, uma imitação ilegal do Placard.