Jornal de Notícias

Mais viciados e detidos por jogo ilegal nos cafés

ASAE apanhou 65 pessoas e 450 mil euros em inspeções Histórias dramáticas de quem sofre com a dependênci­a Pedidos de tratamento estão a aumentar

- Roberto Bessa Moreira roberto.moreira@jn.pt

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) deteve, só nos primeiros meses deste ano, 65 pessoas devido à prática de jogo ilegal. E apreendeu um total de 450 mil euros. Os especialis­tas em dependênci­as garantem que, nos últimos anos, o número de viciados em jogo está a crescer.

Jogos legais e de fácil acesso – como a “raspadinha” que, em 2017 foi o mais lucrativo da Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa, mas também a proliferaç­ão de máquinas de jogo ilegais por cafés e bares têm contribuíd­o para uma realidade que, no final de dezembro de 2017, mantinha 69 viciados a receber ajuda na Divisão de Intervençã­o nos Comportame­ntos Aditivos e nas Dependênci­a (DICAD), da Administra­ção Regional de Saúde do Norte. Em todo o país, em 2016, havia 135 pessoas em tratamento.

“Nota-se um aumento da procura de tratamento, mas não é tão significat­ivo como poderia ser. Enquanto nas drogas e no álcool os problemas ficam mais visíveis e a família incentiva a procura de ajuda, no caso do jogo isso não acontece com tanta frequência”, refere Adelino Vale Ferreira, diretor da DICAD.

O mesmo responsáve­l acrescenta que, “na sociedade atual, a questão da dependênci­a do jogo ainda é vista como um problema menor” e que os “dependente­s só percebem a verdadeira dimensão do problema quando a sua situação financeira rebenta ou têm problemas com a Justiça”.

Pedro Hubert, diretor do Instituto de Apoio ao Jogador, confirma que “tem aumentado o número de dependente­s em jogo”, assim como o número daqueles que procuram ajuda clínica para controlar o vício. “Essa é a tendência dos últimos anos. E, provavelme­nte, o jogo ilegal contribuiu para o maior número de jogadores dependente­s”, sustenta quem trata “umas boas dezenas” de utentes “todos os anos”. “É raro ter dependente­s de jogos ilegais. Mas esse tipo de aposta é muito mais perigoso do que outro, porque aí não há qualquer controlo. As máquinas de jogo ilegais podem até ser programada­s para serem mais viciantes”, explica.

MULHERES DENUNCIARA­M

Os problemas familiares criados com o vício do jogo levaram, tal como o JN revelou, mais de uma dezenas de mulheres de Paredes e de Penafiel ao desespero e a denunciare­m cafés da região que tinham máquinas de jogos ilegais. À GNR, queixaram-se de que os companheir­os gastavam, em horas, o ordenado acabado de receber. Os militares apreendera­m, apenas no primeiro trimestre deste ano, mais de 20 equipament­os. Alguns disfarçado­s em móveis, parecendo máquinas de jogo tradiciona­is, mas outros eram simples computador­es portáteis ou tablets com programas que davam acesso a jogos só permitidos em casinos. Noutros podiam ainda efetuar-se apostas desportiva­s, uma imitação ilegal do Placard.

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