Ex-empresário vive na rua há um mês após perder subsídio
Homem de 58 anos está em frente ao Altice Arena e diz-se disposto a ficar até que deixe de haver sem-abrigo
Um homem de 58 anos está desde 4 de junho acampado no Parque das Nações, em Lisboa, em protesto contra a burocracia que impede que as políticas de apoio aos sem-abrigo produzam resultados reais. “É um direito constitucional que me assiste. Estou aqui para tirar as pessoas da rua e ficarei até que o problema fique resolvido”, disse, ontem, ao JN, junto à tenda montada a escassos metros do Altice Arena.
Pedro Ribeiro conta que, nos anos 80, foi proprietário de uma empresa têxtil na Figueira da Foz, mas que, “devido a um corte de crédito da banca” a empresa “foi abaixo” e acabou por ficar endividado. “A pressão foi tanta que tive de sair de casa, deixar a família, com um filho então com um ano, para que não fossem afetados pela minha situação”, revela.
Desde então, trabalhou sempre na hotelaria, em restaurantes e hotéis de norte a sul do país. A vida não lhe correu bem, no entanto, e acabou em Lisboa a viver numa casa com renda apoiada pela Santa Casa da Misericórdia. Até que em novembro o subsídio lhe foi retirado. “Fui viver numa fábrica abandonada, porque não tenho rendimentos para alugar uma casa”, conta o homem, que, atualmente, sobrevive apenas com o rendimento social de inserção (RSI).
A experiência de viver na rua fê-lo, entretanto, tomar contacto com a realidade dos sem-abrigo. Daí a ideia de levar a cabo este protesto numa das zonas mais emblemáticas e mais movimentadas da capital.
“Há dinheiro para tudo e não há dinheiro para tirar as pessoas da rua”, questiona-se, apontando o cenário à sua volta, onde há 20 anos funcionou a Expo 98.
EM GREVE DE FOME
Pedro Ribeiro garante que avisou as autoridades do protesto mas que, na última semana, a Polícia Municipal lhe derrubou o mural onde tem expostos os seus cartazes que traduzem por escrito a sua revolta. Em protesto, entrou em greve de fome, que durou até há dois dias.
O homem diz receber diariamente muitas mensagens de apoio e solidariedade e termina com um apelo ao presidente da República: “Que cumpra a Constituição, que consagra o direito à habitação”.