Jornal de Notícias

Dar corda aos Vitorinos

- POR Paulo Baldaia Jornalista

Ao mesmo tempo que Portugal e a Europa se diziam orgulhosos pela eleição de António Vitorino como diretor-geral da Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações, a Europa e Portugal mostravam que há ainda muito caminho a fazer para que esse orgulho seja genuíno. António Costa, perante uma União que se mostra totalmente dividida, diz que a última reunião do Conselho Europeu “foi das mais horríveis” em que esteve. O novo Governo de Itália não quer os migrantes que atravessam o Mediterrân­eo, no centro da Europa há países que não aceitam ajudar um só refugiado que seja, na Alemanha a crise política espreita por causa dos que chegam de África. Em Portugal, para lá do Conselho da Europa nos ter apontado o dedo por sermos dos que mais discrimina­m a comunidade cigana, vivemos na semana passada a triste confirmaçã­o, com a agressão da rapariga colombiana no Porto, de que o racismo existe e se manifesta até de forma violenta.

É, portanto, um orgulho ferido, este com que olhamos para um europeu português que venceu uma candidata costa-riquenha e um candidato norte-americano para liderar a agência da ONU para as migrações. Dizem-nos que é a vitória da diplomacia, mas é preferível vê-la como uma vitória de António Vitorino, um excelente profission­al na política e na advocacia, um Ho- mem positivo e sempre de bom humor, e o que esperamos é que as vitórias diplomátic­as cheguem agora, na forma de decisões que beneficiam os milhões de pessoas que são forçadas a fugir de suas casas e dos seus países.

A expressão muito nortenha “dar corda aos vitorinos” significa correr, andar mais depressa, fugir, fazer acontecer. É neste último significad­o que devemos colocar as nossas esperanças e as nossas energias. Cada um de nós pessoalmen­te e todos como sociedade, temos de “dar corda” (incentivar, ajudar, animar) aos Vitorinos que se candidatam a dar da sua vida para que a vida de todos seja melhor. Não pode ser genuíno o orgulho de ver mais um português na liderança de uma instituiçã­o internacio­nal com fins humanitári­os, se não tivermos orgulho no nosso comportame­nto coletivo.

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