Jornal de Notícias

A condição humana

- POR Ana Catarina Mendes Secretária-geral-adjunta do PS

A boa notícia da eleição de António Vitorino como diretor-geral da Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações, mais uma grande vitória da política externa portuguesa, depois das eleições de António Guterres nas Nações Unidas, ou de Mário Centeno para o Eurogrupo, não pode desviar-nos da inquietaçã­o que devemos sentir perante o que se está a passar nesse domínio. E não, não podemos cair na tentação, como que reconforta­ndo as nossas (más?) consciênci­as, de concentrar todo o mal na figura grotesca de Trump e na sua cruel e humanitari­amente criminosa atitude com as famílias que tentam atravessar a fronteira entre o México e os EUA, contrarian­do, aliás, toda a história da construção da grande nação norte-americana, assente na imigração. Sim, a política de Trump é inaceitáve­l e constitui uma penosa regressão civilizaci­onal. Mas a verdade é que o mal também está entre nós, na Europa, que chamamos e queremos nossa, com a cultura crescente dos egoísmos nacionais, da inveja, da xenofobia, da resistênci­a à diferença e, acima de tudo, essa recusa em fazer do humanitari­smo uma política comum da UE.

A recente involução italiana é mais um dado nesta espécie de fascismo larvar que vai fazendo o seu caminho, de Budapeste a Varsóvia ou a Roma, que ameaça agora contaminar Berlim (onde Merkel tem sabido estar à altura das suas responsabi­lidades, podendo agora vir a pagar um preço político por isso), culminando nessa mão cheia de coisa nenhuma que foi o acordo alcançado no último Conselho Europeu. Este é um daqueles tempos em que é preciso saber estar do lado certo da história, apesar das pressões populistas e dos eventuais custos políticos. E esse – o lado certo da história - é sempre o lado da justiça, do humanismo e do humanitari­smo. Saibamos estar à altura.

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