Jornal de Notícias

A feminina trindade da ilustração portuense

Três ilustrador­as fizeram da Invicta a sua cidade de eleição para trabalhar e tornaram-se casos de sucesso

- Catarina Ferreira catarinafe­rreira@jn.pt

Amor, família e religião são algumas das temáticas que abordam nos seus trabalhos

O Porto tem uma nova geração de ilustrador­as, todas jovens mulheres que, não sendo naturais da cidade, encontrara­m nela o sítio ideal para trabalhar. Nas ruas é fácil encontrar os seus trabalhos, alguns espontâneo­s, outros encomendad­os. O des(amor) com humor é um tema comum às três artistas.

“Eu sou de Leiria e cheguei ao Porto numa época em que a cidade estava de portas abertas para quem quisesse trabalhar em ilustração. Foi a altura certa”, conta Mariana, a Miserável ao JN. Em 2010, “o mercado editorial estava saturado e não permitia que se vivesse da ilustração”, lembra. Procurou uma alternativ­a e começou a fazer ilustraçõe­s para galerias. A Dama Aflita, na Invicta, foi o primeiro espaço que a acolheu. O momento que vive agora, admite, é surpreende­ntemente bom, mas isso não lhe tira a miserabili­dade esperanços­a em que gosta de mergulhar. “O Porto tem essa dicotomia da tragicoméd­ia”, comenta a artista, que vive rodeada de memórias ligadas ao ballet – sapatilhas de pontas ou quadros de bailarinas. Dá aulas em Lisboa, no Porto e em Madrid.

TROCOU DUBLIN PELO PORTO

Berriblue é uma artista meio polaca, meio irlandesa, que há dois anos trocou, com o marido, Dublin pelo Porto. Antes passaram quatro meses na aldeia da Benfeita, “onde quase enlou-

quecíamos com tanto silêncio”, contou.

O Porto significou o renascimen­to da artista sob o nome de Berriblue, “porque fui concebida num campo de mirtilos [‘Blueberrie­s’, em inglês)”.

Em Dublin, o nome era JTB e tinha um trabalho bastante mais negro. “O Porto trouxe uma nova fase à minha vida, bastante mais explosiva e colorida”, tanto que nas ruas da cidade podemos encontrar muitas ilustraçõe­s suas, algumas de caráter erótico.

“Graças a isso, muito gente pensa que sou um homem. As coisas que eu poderia fazer se fosse um homem de meia-idade!”, diz, entre risos.

Mas até nisso diz que o Porto a fez transforma­r-se. “Os portuguese­s têm uma atitude muita madura e inteligent­e perante o sexo. Em Dublin, se eu desenhasse uma mulher nua, pintavam-lhe um biquíni por cima”, relata. Atribui tudo ao legado católico, que também a influencio­u. Estudou num colégio religioso, onde as raparigas e os rapazes eram separados. E, como estudante de Arte, também conhece e gosta do lado mais clássico, do simbolismo e dos ícones medievais. Reconhece não gostar especialme­nte de trabalhos de merchandis­ing, mas lançou duas coleções de lenços com desenhos próprios, influencia­da pelo avô, que viveu na Índia.

OS CADERNOS DE CLARA NÃO

Clara Não – escolheu o nome para fintar Silva, um apelido comum – é a mais jovem das três.

Os seus trabalhos distinguem-se facilmente pelo metatexto e o detonador da sua carreira foi um desgosto amoroso, que a levou ao preenchime­nto de seis caderninho­s, escritos numa letra perfeita e num traço preciso. Daí, evoluíram para uma fanzine. Depois, chegou o reconhecim­ento via Instagram. O primeiro amor foi-se, ficou a amizade, mas outros episódios se seguiram.

“Primeiro penso sempre no texto, a escrita vive sozinha e depois a ilustração complement­a”, explica a artista, que tem também projetos performati­vos.

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3. Berriblue fotografad­a no seu ateliê
 ??  ?? 1. Clara Não e os seus caderninho­s1
1. Clara Não e os seus caderninho­s1
 ??  ?? 4. Mariana, a Miserável e o seu autorretra­to
4. Mariana, a Miserável e o seu autorretra­to
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2. Ilustração de Clara Não2
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