Jornal de Notícias

Terreiro do Paço

O Mundial não seria o mesmo sem os canarinhos. Eles sambam, gritam e goleiam qualquer azar

- POR Kátia Catulo desporto@jn.pt

Eles chegam ao Terreiro do Paço, em Lisboa, cheios de tudo – samba, funk e pagode, camisolas, chapéus e bandeiras, cornetas, vuvuzelas e caras pintadas. E dão tudo por tudo antes, durante e depois dos jogos. Dão tanto, aliás, que quase não sobra espaço para as poucas dezenas de adversário­s que procuram também conquistar o seu espaço na Arena Portugal para assistir ao jogo entre Brasil e México. Será especial esse jeitinho do povo brasileiro vibrar com o Mundial?

“Especial não sei se é – responde Giuliana Crespo –, mas que o futebol é coisa muito séria, isso é com certeza”. OK, ninguém diz o contrário, mas não é também assim com a maioria dos adeptos sejam brasileiro­s, coreanos, suecos ou portuguese­s? “Acho que sim, mas quando o Brasil joga, a gente esquece tudo o resto e nada mais importa”, diz Franciely Ferrasco. Bom, já se começa a perce-

ARENA PORTUGAL

ber um bocadinho. Agora só falta explicar que “tudo o resto” é esse e o que “nada mais” importa.

“Você quer mesmo saber?”, desafia a brasileira de Mato Grosso a viver em Mem Martins, Sintra. Então cá vai: quando a seleção brasileira joga, Franciely nem se lembra que todos os dias sai de casa ainda antes das cinco da manhã para estar em Lisboa uma hora depois. “Faço faxina em vários escritório­s, no Saldanha, no Campo Grande e no Parque das Nações”. E quase não dormiu para estar na Praça do Comércio a tempo e horas do jogo contra os mexicanos. “É duro, mas hoje isso não tem importânci­a”.

Nem tem importânci­a que Tarcísio Prado, engenheiro mecânico, tenha saído do Rio de Janeiro há pouco mais de dois anos por achar que a cidade maravilhos­a não é segura para criar as duas filhas, Iara e Cássia: “Por mais que goste de viver aqui, quero voltar um dia”. Ou sequer que o Brasil tenha caído nas mãos de Michel Temer, um presidente que está “arruinar” a economia e a “obrigar” os brasileiro­s a emigrar, acrescenta Manoel Resende, empregado de café, que saiu de Cuiabá, no Mato Grosso, há seis meses, para viver na cidade de Almada.

Nos dias em que o Brasil joga “tudo isso” fica para trás. O que conta é ganhar a Copa e sair à rua para festejar com o samba no pé e a cerveja na mão. Mesmo que, no dia seguinte, Franciely tenha de acordar às cinco da manhã. E que Tarcísio continue à espera de regressar ao Rio. Pouco importa. “A festa da vitória contra o México ainda está para durar”, avisa Manoel.

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Dia de samba na Arena Portugal. Quando joga o Brasil “nada mais importa”
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Apoio desde o berço

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