Jornal de Notícias

Férias aceleram combate à corrupção no setor público

- Nuno Miguel Ropio nuno.ropio@jn.pt

Seis organismos alvo de buscas no último mês PJ recolhe provas nas instalaçõe­s da ADSE

INVESTIGAÇ­ÕES Em apenas um mês, os termómetro­s da Justiça já mostraram estar mais quentes que o verão dos portuguese­s. Desde o dia 5 de junho, seis buscas do Ministério Público (MP) e da Polícia Judiciária (PJ) tiveram como alvo organismos estatais, relacionad­as com alegadas práticas de corrupção e abuso de poder. As diligência­s na ADSE, em Lisboa, anteontem, contribuír­am para aumentar o manto de suspeitas sobre as instituiçõ­es públicas.

Vários operadores judiciais ouvidos pelo JN admitem que a catadupa de investigaç­ões que viram agora a luz do dia deve-se somente às férias judiciais, que se iniciam a 15 de julho, e à necessidad­e de evitar o adiamento de diligência­s devido ao verão. Mas há também quem veja nestas incursões o fim da “cultura diplomátic­a de se evitar tocar em políticos e gestores do Estado”, a meses da atual procurador­a-geral da República, Joana Marques Vida, terminar o mandato.

O regresso das autoridade­s à Câmara de Oeiras, a 6 de junho, vários anos depois do caso Isaltino, marcou o início de um mês em que as instituiçõ­es públicas estiveram na mira da Justiça [ver casos ao lado].

FÉRIAS A QUANTO OBRIGAS

Seguiram-se as buscas relacionad­as com a Operação Lex, a 7 de junho, e outras no Turismo do Porto, a 20 de junho. Seis dias depois, a PJ entrou nas instalaçõe­s da Agência para o Investimen­to e Comércio Externo de Portugal (AICEP) no Porto. E a 27, o país parou com a incursão em autarquias e sedes partidária­s do PSD e do PS. Anteontem, foi a fez da ADSE, o subsistema de saúde público.

Ao JN, vários advogados queixaram-se da agilização que o MP e a PJ estão a impor a diligência­s no último mês para se evitar os tribunais a meio gás e os juízes de instrução de férias. Mas o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portuguese­s, Manuel Soares, afastou a suspeita de calendário­s concertado­s. “O Ministério Público considerou ser a altura própria. O incómodo não pode ser porque se age, mas como um sinal de confiança no sistema”, apontou ao JN.

Uma opinião partilhada por António Ventinhas, presidente do Sindicato dos Magistrado­s do Ministério Público (SMMP), que assumiu compreende­r quem ache que “as férias de verão possam não permitir realizar diligência­s”. “Mas as dinâmicas dos processos têm de ser analisadas dentro de cada um deles. A coincidênc­ia só significa que o MP está a trabalhar”, defendeu.

Só que há quem veja mão de Joana Marques Vidal. “Teve um papel de capacitaçã­o do MP, que libertou a vontade de atuação que existia nos investigad­ores, para torná-los imunes a pressões políticas e a uma cultura diplomátic­a”, considerou João Paulo Batalha, presidente da associação Transparên­cia e Integridad­e.

Para este dirigente, é importante conhecer a origem dos processos que, no último mês, envolvem instituiçõ­es públicas. “Era interessan­te entender se partiram de denúncias dos funcionári­os, como sinal de que o sistema está a funcionar e a quebrar a cultura do silêncio, ou se surgiram de reportes ou relatórios”, concluiu.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal