Jornal de Notícias

Maria do Desterro Santos

- 78 anos Póvoa de Varzim de histórias Contadora ANA TROCADO MARQUES

Abantesmas, bruxas, almas penadas, lendas e crendices, tradições locais, gentes, casas e monumentos. Maria do Desterro Santos, ou “Ti Desterra”, como é mais conhecida na Póvoa de Varzim, é um verdadeiro museu vivo. Aos 78 anos, mantém imaculada a memória e vive a contar histórias.

O Museu de Etnografia e História já gravou quase duas dezenas e, amiúde, pede-lhe que as conte a escolas e infantário­s. Cheias de pormenores, vivas, meio contadas, meio representa­das, sempre com um toque de humor, cada uma delas é o olhar de “Terrinha”, – a inocente criança Maria do Desterro –, sobre uma Póvoa de outros tempos. “Ti Desterra” não se cansa de as contar.

Algumas das histórias ouviu dos mais velhos, ao serão, numa altura em que “não havia televisão e as crianças tinham que se entreter”. Outras, viveu-as, como a do “bezerro maldito”, que certo dia, “já à noitinha”, apareceu na “ilha” onde morava, na Rua Patrão Sérgio, envolto num “redemoinho de vento”. Com o susto, o cunhado, que “caiu redondo, nunca mais teve

PÓVOA DE VARZIM

Idade: Concelho:

Ocupação: saúde”. Se era “gente ou Diabo, nunca se saberá”.

Nascida no coração do Bairro Norte, junto à Igreja do Desterro, “Ti Desterra”, filha de pescador e peixeira, era “a 11.ª de 12 irmãos”. “Éramos pobres, mas felizes”, garante, sorrindo, ela, que andou descalça, porque socas era um luxo, que nem sempre podia ter. Aos dez anos, começou a ir, “de gamela à cabeça, vender peixe pelas aldeias”.

Fez camisolas poveiras, vestiu noivas e anjinhos de procissão, fez renda de bilros, trabalhou nas conservas. “Terrinha” lia muito e, sobretudo, deliciava-se a ouvir as histórias dos “velhos”. Casou aos 23, teve três filhos, juntou dinheiro, comprou um barco a remos, mais tarde um a motor, “o primeiro de ferro que veio para a cidade”.

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“Ti Desterra” conta as suas histórias no Museu de Etnografia

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