Limpeza junto à linha férrea provocou maior incêndio de Setúbal
GNR responsabiliza empresa que limpava ao longo da ferrovia, em agosto do ano passado
SETÚBAL A investigação ao maior incêndio do distrito de Setúbal no ano passado, que consumiu 2500 hectares durante dois dias, em Grândola, concluiu que foi o trabalho de uma empresa de gestão de faixas de combustível junto à linha férrea a causar a ignição.
Militares do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR encontraram no local onde quatro trabalhadores de uma empresa de Ponte de Sor limpavam o mato junto à linha ferroviária, perto da Herdade dos Padrões, em Azinheira dos Barros, o ponto de origem do incêndio e concluíram que foi a utilização de uma motorroçadora, em contacto com um bloco de betão ou uma valeta ali existente, que provocou o incêndio. “A origem do incêndio terá por base a emissão de faúlhas produzidas pelo contacto das partes metálicas de uma motorroçadora, equipamento utilizado nos trabalhos de manutenção, com elementos de betão existentes no local, seja um bocado de betão ou a estrutura da própria valeta também ela feita de betão”, pode-se ler no inquérito, a que o JN teve acesso.
As conclusões do inquérito foram entregues pelo SEPNA ao Ministério Público de Grândola, que vai agora, perante o relatório, decidir se leva a empresa e um suspeito, o trabalhador que utilizava a motorroçadora, à barra do tribunal, deduzindo assim acusação criminal.
Durante a reconstituição dos factos, em que quatro trabalhadores indicaram à GNR onde estavam e que maquinaria utilizavam dusuem rante o trabalho de gestão de combustível, o suspeito, que a GNR entende que foi o responsável pela emissão da faúlha, negou estar a utilizar aquela máquina naquela hora e, tal como os camaradas, referiu aos militares que o incêndio deflagrou a cem metros do local onde estavam.
TEMPERATURAS ALTAS
As chamas deflagraram às 15 horas do dia 10 de agosto, uma quinta-feira, numa altura em que a temperatura subia aos 34 graus, a humidade relativa do ar prendia-se pelos 17% e o vento soprava de sudeste a 7,5 quilómetros por hora.
A investigação considera que a empresa agiu de forma “irresponsável ao executar este tipo de trabalhos nesta altura do ano, pois as temperaturas são elevadas e os combustíveis finos pos- muito baixo teor de humidade”. O combate ao incêndio durou até à manhã de sábado, dia 12 de agosto, e atingiu um total de 21 propriedades rústicas ao longo de 2500 hectares, cujos lesados se constituíram assistentes no processo para pedir indemnização pelos danos.
1,8 MILHÕES DE EUROS
A empresa, de Ponte de Sor, foi contratada pela MotaEngil, à qual a Infraestruturas de Portugal pagou 1,8 milhões de euros para limpar o mato ao longo de vários troços ferroviários na linha do Sul, variante de Alcácer do Sal, linha do Alentejo, entre Vendas Novas e Casa Branca e a linha de Évora, entre Casa Branca e Évora.
O início dos trabalhos foi a 18 de junho e tinha de estar concluído até 31 de dezembro.