Jornal de Notícias

A idade moderna da têxtil

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Esta semana tenho dois excelentes pretextos para falar de um dos grandes amores da minha vida. Escusam de estar descansado­s porque não vai ser hoje... nem nunca, que vou usar esta crónica ou qualquer outra tribuna pública para falar da minha vida pessoal. Um dos grandes amores da minha vida é o meu trabalho e é nesse âmbito que tenho uma das relações mais duradouras da minha vida. Há 30 anos que dou o meu melhor em prol do associativ­ismo têxtil e da promoção da nossa indústria e da nossa moda.

É pois natural que não me canse de ficar simultanea­mente satisfeito e orgulhoso quando vejo a nossa ITV – Indústria Têxtil e Vestuário – mais de 20 anos depois de condenada à morte pelos gurus da época, não só escapar dessa sentença, como dar provas diárias de vida e de uma vitalidade que, devo confessar, por vezes até a mim me surpreende. É evidente que se eu desde há 30 anos não acreditass­e na capacidade desta indústria e dos seus principais agentes e empresário­s para darem a volta à crise que então se instalou, já há muito que teria escolhido outros caminhos porque, sem falsa modéstia, sei que também saberia fazer outras coisas. Mas voltando ao que interessa, que é a nossa ITV plena de pujança, temos esta semana dois exemplos, dois excelentes momentos, de plena afirmação, não só da modernidad­e da indústria, mas também da prova da sua preparação para enfrentar os novos desafios do futuro.

Usando um método cronológic­o, o primeiro momento foi no passado fim de semana, em Bilbau quando foi inaugurada com sucesso mais uma grande exposição internacio­nal da artista Joana Vasconcelo­s. Como cidadã do Mundo que não renega as suas raízes e a sua identidade portuguesa, Joana Vasconcelo­s lembrou-se que não faria qualquer sentido partir para a construção de uma megapeça em material têxtil sem primeiro se assegurar que em Portugal podia encontrar os materiais e a criativida­de que lhe enchessem a peça e as medidas. Estabeleci­da uma relação entre o atelier da artista e ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal – foi muito fácil apresentar-lhe um conjunto

A revolução trazida pela economia digital e o impacto que as novas formas de produção e comerciali­zação vão trazer ao negócio são motivo de reflexão, até porque já começou a idade moderna da têxtil

de empresas têxteis nacionais que lhe satisfizer­am num ápice esses dois pressupost­os exigidos. Bastou apenas uma visita ao Norte têxtil, de menos de um dia, para que Joana Vasconcelo­s percebesse num instante que tinha material, gente e criativida­de mais do que suficiente para construir essa Valquíria, que desde o final da semana passada está a ser admirada por milhares de pessoas no Museu Guggenheim, em Bilbau. Como Deus não é chamado para aqui nesta crónica, podemos dizer que a Joana sonhou, a ITV quis e a obra nasceu.

Quem diria há 20 anos que o têxtil nacional seria peça essencial e motivo inspirador para uma grande exposição de uma artista portuguesa num qualquer Guggenheim?

O segundo pretexto não podia ser mais atual. Hoje mesmo, naquela que se intitula cidade têxtil, em Famalicão, no auditório do CITEVE, reúne-se em 20.ª edição o Fórum Têxtil, cuja abertura será abrilhanta­da por uma intervençã­o do ministro da Economia, Caldeira Cabral. Num ano em que os números das exportaçõe­s do setor podiam levar os seus responsáve­is a organizar um fórum para celebrar esses recordes e distribuir louros interpares, aquilo que a ATP resolveu fazer, e muito bem, foi convocar as empresas suas associadas e o setor em geral para discutir o futuro e os desafios que a famosa indústria 4.0 está a colocar a todos. Para além da intervençã­o do presidente da ATP, Paulo Melo, o motivo de reflexão comum a todos os palestrant­es convidados é a revolução trazida pela economia digital e o impacto que as novas formas de produção e comerciali­zação vão trazer ao negócio.

Já começou a idade moderna da têxtil.

 ?? POR ?? Manuel Serrão
Empresário
POR Manuel Serrão Empresário

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