Póvoa de Varzim
A linha de apoio a idosos da Universidade Sénior
TEMA “É um lugar onde se vão dar muitos abraços!”, sintetiza, sorrindo, Maria das Dores Cunha. São avós que vão ouvir outros avós, que “estão sozinhos”, “muitas vezes só a precisar de uma palavra amiga”. Unem-nos a idade, os problemas, as dificuldades e, por isso mesmo, acreditam, “conversar será mais fácil”. A nova linha de atendimento “A Voz e Laços” é o mais recente projeto da Universidade Sénior da Póvoa de Varzim (USPV).
Aos 66 anos, com dois filhos emigrados, Maria das Dores sabe bem o que é a distância dos afetos. Reformada, com “demasiado tempo livre”, na Universidade Sénior quebrou a barreira do isolamento, encontrou carinho, fez amizades e lançou-se a aprender o que antes não conseguiu. Agora, vai dar o seu tempo aos outros, “a ouvir, sobretudo, a ouvir”.
“Não estamos inválidos! Somos seniores que mantêm o bom humor e a vontade de ajudar os outros”, explicou Miguel Loureiro, o coordenador geral da USPV, lançada em 2007 pelo Rotary Club da Póvoa de Varzim. “A Voz e Laços” é mais uma das ideias de Miguel. O professor reformado, de 72 anos, viu um projeto semelhante na Letónia, num programa de televisão. Não hesitou. “A USPV também era capaz!”, pensou. Deu corpo à ideia, a Autarquia forneceu os telefones e a linha arrancou, na última semana, com dez voluntários.
“São idades próximas. Tenho a certeza que as pessoas vão sentir-se mais à vontade do que se falassem com um jovem”, explicou Marta Gabones, a psicóloga clínica que “deu uma mãozinha” na formação dos voluntários. “Transmitir empatia e compreensão, dar apoio e ouvir”. Foram estes os principais conselhos. A quem possa estar do outro lado, pede apenas que “não tenha receio”. Do outro lado, há uma “avó” “igual”, “com as mesmas dificuldades”, “disposta a ouvir”, “partilhar experiências” e, se possível, “ajudar”.
A linha é aberta a todos os seniores, funciona de 2.ª a 6.ª feira, entre as 14 e as 18 horas, através dos números 910 454 331/2 e 252 090 281/2 e não tem custos acrescidos.
“É uma iniciativa muito interessante”, diz Luísa Mata, que, aos 64 anos, recomenda a USPV “a todos”. Está ali há sete anos e garante que “faz muito bem”, ao corpo e à mente. 46 disciplinas – da informática ao desporto e à música, passando pela história ou pela filosofia –, grupos de teatro, cavaquinho ou dança, festas, convívios, visitas de estudo, workshops, projetos solidários Ali há de tudo e, acima de tudo, “há muitas gargalhadas” para afastar a solidão e viver “mais e melhor”. Contas feitas, 13 anos depois, a USPV tem 227 alunos, dos 50 aos 94 anos.