Juiz quer deixar caso dos emails por ser adepto do Benfica
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O presidente do Tribunal da Relação do Porto (TRP), Nuno Ataíde das Neves, tem nas suas mãos o poder de determinar se os recursos interpostos no processo cível sobre os “emails do Benfica” vão ser decididos, ou não, por um juiz desembargador que é sócio e acionista do Benfica e que, já depois de o caso lhe ter calhado em sorte, recebeu um convite para visitar o centro de estágios dos benfiquistas no Seixal.
O desembargador em questão, Eduardo Rodrigues Pires, não quer julgar recursos, interpostos tanto pelo Benfica como pelo FC Porto, sobre a condenação da última parte a pagar cerca de dois milhões de euros à primeira, pelos danos causados pela divulgação de emails encarnados no Porto Canal. Como avançou ontem o jornal Público, foi o próprio juiz a pedir escusa, a 14 deste mês.
Nascido em 1960, o juiz confessou que é sócio do Benfica desde 1968. E, em março de 2019, recebeu até a “Águia de Ouro”, distinção reservada a sócios com mais de 50 anos de filiação. Também é portador do “Red Pass”, que garante lugar cativo no Estádio da Luz, “onde assiste com grande regularidade aos jogos do Sport Lisboa e Benfica”, assumiu.
O desembargador também explicou a Ataíde das Neves que, em 27 de dezembro último, “recebeu um convite telefónico proveniente do call-center do Sport Lisboa e Benfica no sentido de visitar o Centro de Estágios do Seixal no mês de janeiro”. “Convite natural face à sua longa filiação clubística, mas que entendeu por bem declinar”, esclareceu, informando ainda que detém 250 ações do Benfica, adquiridas aquando da constituição da SAD e da sua entrada em Bolsa. Embora se assuma como “um fervoroso adepto do Sport Lisboa e Benfica”, o juiz diz que, se tivesse de julgar os recursos, “não deixaria de cumprir” o seu “dever de imparcialidade”. Porém, lembra que o futebol tem sido palco de acusações entre os principais clubes, atribuindo-se a utilização de influências em “áreas extra futebol”, como sejam a política e a judicial.
“Basta lembrar uma tarja exibida na última jornada da passada temporada de 2018/2019, em que uma magistrada, por ter proferido decisão em sentido favorável ao Benfica, foi de imediato considerada suspeita de parcialidade por este clube”, recorda Rodrigues Pires, pedindo então ao presidente da Relação que o dispense, para evitar o risco de as suas decisões serem consideradas suspeitas. Ataíde das Neves deverá proferir a decisão, irrecorrível, em breve.
As partes civis do litígio, mormente a dos réus Clube e SAD do Porto, FCP Media e diretor de comunicação Francisco J. Marques, podiam ter pedido o afastamento do juiz, mas não o fizeram.