Jornal de Notícias

PJ reformado pago por fora para investigar favores políticos

Ministério Público retira perícia da operação “Tutti Frutti” à Judiciária Mudança justificad­a com atrasos no processo de corrupção

- Alexandre Panda alexandre.panda@jn.pt

O Ministério Público (MP) retirou da esfera da Polícia Judiciária (PJ) a perícia financeira da mediática operação “Tutti Frutti”, que investiga uma alegada teia de crimes de corrupção, tráfico de influência, participaç­ão económica em negócio e eventual financiame­nto partidário ilícito envolvendo personalid­ades do PSD e do PS. As análises às contas foram recentemen­te atribuídas a um perito independen­te que é o antigo diretor da Unidade de Perícia Financeira e Contabilís­tica (UPFC) da PJ, entretanto aposentado.

Durante dois anos, até se reformar, em janeiro do ano passado, o responsáve­l nunca nomeou oficialmen­te um perito para o caso. Para afastar a UPFC da investigaç­ão, o que aconteceu há cerca de um mês, o MP alegou atrasos nas perícias.

De acordo com informaçõe­s recolhidas pelo JN, a investigaç­ão do “Tutti Frutti” começou em 2017 e tem como principal suspeito um antigo conselheir­o nacional do PSD, Carlos Eduardo Reis, dono de uma empresa da área da jardinagem, em Barcelos, indiciado, entre outras coisas, de ter obtido contratos duvidosos de autarcas, essencialm­ente sociais-democratas. Foi nesse ano que o processo deu formalment­e entrada na UPFC, liderada por Egídio Cardoso. Não foi entregue a nenhum perito, apesar de terem sido solicitada­s diversas análises bancárias poucos dias depois e uma nova leva meses mais tarde. O próprio diretor da UPFC produziu alguns relatórios intercalar­es para o processo.

Só em meados de 2018, depois da PJ ter avançado com buscas no PSD e PS, além de juntas de freguesias, câmaras de Norte a Sul do país e escritório­s de advogados, é que o MP pediu à UPFC a perícia oficial a dezenas de apensos com documentaç­ão bancária e contabilís­tica relativa às entidades e indivíduos visados.

No final de 2018, quando Egídio Cardoso estava prestes a reformar-se, ainda não tinha sido nomeado nenhum perito da Unidade, mas foram efetuadas análises bancárias sob orientação do próprio diretor, que se aposentou em janeiro de 2019. Nessa altura, havia pelo menos uma dúzia de pedidos de perícias por atribuir. Entretanto, o “Tutti Frutti” ficou a cargo de um especialis­ta superior da PJ, mas este teve de entregar o processo ao antigo diretor da Unidade, agora perito independen­te contratado, por ordem do MP.

PGR NÃO JUSTIFICA

O JN questionou a Procurador­ia Geral da República (PGR) sobre a razão da transferên­cia da perícia da PJ para o antigo diretor e o custo da contrataçã­o de Egídio Cardoso. “O MP toma as medidas adequadas e previstas na lei para salvaguard­ar o melhor andamento dos processos e os interesses da investigaç­ão”, explicou a PGR.

A Direção Nacional da PJ “não comenta” o caso, mas adianta que “a UPFC melhorou substancia­lmente de 2018 para 2019 em termos de organizaçã­o e redução de tempo de resposta”. Explica ainda ter sido clarificad­a “a função da UPFC e a sua natureza de unidade de apoio técnico-científica”. “Recebemos mais solicitaçõ­es do MP em 2019 do que em 2018 e a tendência é para se aumentar a resposta. Mas continuamo­s com a necessidad­e de reforçar os meios humanos nesta unidade”, esclareceu.

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Transferên­cia das perícias foi ordenada pelo Ministério Público

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