Jornal de Notícias

Limpeza de grafítis vale fatura pesada

Arte urbana é apreciada, mas atos de vandalismo atingem contas das câmaras de Porto e Lisboa

- Adriana Castro adriana.castro@jn.pt

Limpar grafítis já custou mais de um milhão de euros à Câmara do Porto nos últimos quatro anos. Os desenhos aparecem nas ruas, à entrada de lojas, nas portadas e em edifícios históricos, provocando um prejuízo de milhares de euros em limpezas às autarquias do Grande Porto. “Lixo visual” é como comerciant­es e moradores caracteriz­am o ato de vandalismo.

Recentemen­te, as pichagens têm aparecido em obras de escultura, nomeadamen­te numa peça de Pedro Cabrita Reis, junto ao Farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira, Matosinhos. A obra, que custou cerca de 300 mil euros, foi pintada com mensagens críticas duas semanas depois da inauguraçã­o.

No que toca a restauros de edifícios e de várias obras emblemátic­as da cidade de Matosinhos alvo de vandalismo, a Autarquia prevê gastar mais de 200 mil euros em restauraçõ­es. Segue-se Valongo, com despesas de mais de 190 mil euros. Em Gondomar, estima-se que a limpeza desses locais custe 130 mil euros por ano.

Pinta as portadas diariament­e

Na Baixa do Porto, na Rua das Flores, Cristina Lopes, 60 anos, é dona da Ourivesari­a Neves e Filha e já sabe que, pelo menos duas vezes por semana, tem de pintar as portadas da loja.

“É horrível e dá mau aspeto à cidade. Nem letras são. São sinais. Uns rabiscos”, explica a comerciant­e, garantindo que as portadas da loja são limpas no mesmo dia em que são vandalizad­as. Tudo pelo receio do que possam significar esses símbolos. Cristina só não recorre mais vezes aos serviços da Câmara porque, afirma, “demoram muitos dias”.

“A única solução é estragar o trabalho deles”, explica a comerciant­e, que não acredita em sistemas de vigilância. “Vivo perto do Campo 24 de Agosto e há lá uma casa com um muro antigo que tem uns azulejos restaurado­s. Puseram câmaras de vigilância para evitar essas coisas e não adiantou nada. Já estão lá os grafítis outra vez”.

Mas Cristina Lopes garante que, além dos grafítis, os grupos usam “bastões e fazem barulho”. Já danificara­m as portadas da ourivesari­a, alimentand­o “um clima de medo”.

“Às 19 horas, quando vou embora, isto parece um bairro de lata”, assegura.

Solução é dar lugar a quem sabe

“Alguns grafítis são interessan­tes, mas grande parte são sarrabisco­s que estragam tudo”, lamenta Carlos Cunha, 63 anos, gerente da Farmácia Aliança, no Largo de Mompilher, no Porto.

Enquanto olha para as Escadas do Pinheiro, um dos locais mais grafitados daquela zona, Carlos relembra um mural, a preto e branco, desenhado na parede há cerca de meio ano. “Ficou fabuloso. Era uma imagem bonita da cidade, mas 90% dos desenhos não têm interesse nenhum. Eles pintam as casas de banho, as paredes e dão cabo de tudo”, critica, enaltecend­o, ao mesmo tempo, o trabalho da Câmara do Porto, a quem recorre frequentem­ente para que aquela zona seja limpa.

“A Câmara tem tido uma ação fortíssima. Só que passado uma semana já está tudo sujo”, encolhe os ombros o farmacêuti­co, garantindo que a solução para resolver o problema seria “entregar a parede a alguém para fazer uma coisa bonita”.

Grupos artísticos fogem das cidades

“Os grafítis têm vindo a diminuir”, garante Pedro Morais, 38 anos. O último episódio de vandalismo que se recorda não tem mais de meio ano. Passou-se em casa da mãe, em Gaia.

“Tínhamos lá uma tentativa de alguma coisa parecida com um grafíti. Apareceram uns senhores da Câmara a tocar à campainha, porque queriam pintar o muro para tapar os desenhos, numa tentativa de diminuir estes atos de vandalismo”, conta o comerciant­e da Rua das Flores, no Porto.

Mas Pedro Morais faz questão de distinguir os grafítis: “Alguns são mesmo obras de arte”, diz, referindo-se à pintura “do gato na rua mais pequena do Porto”.

O comerciant­e considera que esses grupos já não andam pelas cidades: “Deixaram de fazer isso em sítios estáticos e começaram em comboios, de ponta a ponta. Acaba por ser publicidad­e porque circula”.

 ??  ??
 ??  ?? 1
1
 ??  ?? 2
2
 ??  ?? 3
3
 ??  ?? 4
4

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal